Outubro é o mês em que normalmente as eleições são disputadas no Brasil, por isso a edição da Revista Reconexão Periferias deste mês propõe uma reflexão sobre este assunto, pontuando especialmente questões de raça, gênero, classe e território.

Muito se ouve dizer que as periferias, que principalmente jovens das comunidades e favelas, estão distantes da política, e que o papel dos partidos de esquerda deveria ser o de “trazer jovens para a política”. Contudo, tal pensamento é equivocado e distante da realidade, uma vez que grande parte dessa juventude tem, em graus diferentes, elaborado uma crítica estrutural à sociedade em que vivemos, pautando a importância de que a disputa do poder seja feita não só nas eleições, mas no cotidiano em que vivem.

Pessoas que moram nas periferias, em geral, têm uma visão bastante crítica da realidade em que vivem, pela consciência da importância das políticas públicas para suas vidas, de governos que façam o Estado presente nos territórios. E não da forma como se dá hoje, com a polícia efetivando o genocídio da população negra, mas com o Estado garantindo o direito ao acesso a creches e escolas públicas, a políticas habitacionais, a hospitais de qualidade e apoiando iniciativas de geração de renda nos próprios territórios, por exemplo.

Entretanto, esse posicionamento social passa longe de ser expresso na linguagem e na forma das organizações tradicionais da esquerda, inclusive dos partidos políticos. Nas batalhas de slam, nas letras de rap, na estética do funk, nos coletivos periféricos de mulheres negras, por exemplo, é que essa juventude apresenta suas críticas e propostas de mudanças sociais. A consciência das desigualdades estruturais entre o morro e o asfalto, entre o negro e o branco e entre mulheres e homens é presente nessa juventude, sendo expressa das mais diferentes formas. Estas são ações que devem ser consideradas, pautadas e visibilizadas por quem se propõe a disputar institucionalmente o poder.

Nesta eleição, temos uma participação crescente de candidaturas oriundas dessa realidade das periferias, especialmente nas candidaturas coletivas para o Legislativo. É um fenômeno importante de ser avaliado, especialmente após o pleito, observando o território desses votos coletivos. Pode ser que dê sugestões de por onde os partidos de esquerda possam voltar a apostar para conseguir vitórias eleitorais.

Mas, além da forma da disputa, o conteúdo a ser disputado precisa dialogar com a realidade das periferias. Realidade esta, como já dito, consciente de sua condição social, mas carente de vias institucionais que compreendam profundamente o papel estrutural das questões de classe, raça, gênero e território como essenciais para qualquer disputa social.

O artigo de Wescrey Portes apresenta e debate alguns fatores responsáveis pela sub representação de negros e negras no sistema político brasileiro. Na entrevista deste mês tratamos sobre estratégias de campanha eleitoral nas periferias, com dois entrevistados: Enderson Araújo, criador do coletivo Mídia Periférica, de Salvador, e Venâncio Pinheiro, coordenador da Casa de Mídia e da Rádio Insubmissa, de Natal (RN).

E o perfil traz a história de vida de Dedé Teixeira e o legado petista em Icapuí (CE). Por outubro ser o mês de celebração do Círio de Nazaré, no Pará, a revista não poderia deixar de trazer um artigo sobre ele, na perspectiva de um evento com base na religião, mas que diz muito sobre um povo que se manifesta por direitos e cidadania, não só pelo voto.

 

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