Delirante, trivial, embaraçoso, vergonhoso, defesa surreal de seu governo e retórica perigosa foram alguns dos adjetivos dados ao discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 22 de setembro, por Organizações Não Governamentais como a World Wide Fund for Nature (WWF), Greenpeace, Anistia Internacional e outras, bem como por órgãos da imprensa internacional, como o jornal The Guardian e a Agência Bloomberg. Como guarda a tradição desde a fundação da ONU, o representante do Brasil foi o primeiro a falar.

Foi um discurso voltado para os “bolsonaristas” e para os militares que pululam nas dependências do governo, cujo conteúdo tentou justificar o injustificável, vender o Brasil para os investidores internacionais e marcar algumas posições ideológicas, além de, como sempre, agradar seu amigo Donald Trump, que falou em seguida, mas não devolveu a gentileza. Aliás, ele já se acostumou a receber as benesses do governo brasileiro sem precisar praticar reciprocidade.

Além desta lógica, o discurso foi permeado por informações falsas na tentativa de culpar os outros pelos problemas causados pelo governo, principalmente os ambientais, que estamos sofrendo como a acusação aos caboclos e indígenas que seriam responsáveis pelos incêndios do Pantanal e da Amazônia que são obras de fazendeiros incendiários e resultados do corte de recursos das instituições de defesa ambiental promovido pelo seu governo ou as quase 140 mil mortes pelo coronavírus, que ele tentou atribuir aos estados e municípios, omitindo a postura irresponsável do governo federal desde o início da pandemia.

Também faltou com a verdade ao falar de números dizendo que o Brasil acolheu cerca de 400 mil refugiados venezuelanos quando, na verdade, regularizou a situação de 36 mil deles e jactou-se de o Brasil estar recebendo Investimentos Externos Diretos crescentes quando eles diminuíram em US$ 38 bilhões. Sem mencionar a acusação falsa que a Venezuela foi responsável pelo derramamento de petróleo que atingiu a costa do Nordeste brasileiro.

Se a intenção foi a de eximir o governo da responsabilidade pela proteção ambiental e preservar as relações com os países centrais e os acordos comerciais como o da União Europeia com o Mercosul, o tiro saiu pela culatra, pois não conseguiu convencer ninguém e apenas demonstrou, mais uma vez, sua mediocridade e total ausência de uma política externa que não seja aquela ditada pelo atual governo estadunidense.

Kjeld Jakobsen é é consultor da Fundação Perseu Abramo. O texto não reflete necessariamente a posição da instituição.

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