Em entrevista à TV 247, nesta quinta-feira (17/9), o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu, Aloizio Mercadante, afirmou que uma retomada das aulas de maneira irresponsável e açodada poderá resultar e uma nova escalada da pandemia de Covid-19 no Brasil. “Como é que você coloca sessenta milhões de crianças e jovens dentro da sala de aula e mais três milhões de professores? O que é que você acha que isso vai virar?”, questionou.

Mercadante afirmou que é verdade que a pandemia se estabilizou no país, mas ponderou que ainda em um patamar muito elevado, entre oitocentas e mil mortes por dia, fora a contaminação. “É muito difícil você controlar o distanciamento social da infância e dos adolescentes. Muitos professores têm problemas sérios de idade, de doenças, fazem parte do grupo de risco. Como não tem concurso público há muito tempo, a grande maioria dos docentes tem idade elevada. Então, você vai expor esses professores, vai expor os avós e os pais, que estão em casa, por um sistema de contaminação imediata, sem nenhuma segurança do ponto de vista da saúde das pessoas, porque você ainda não tem um remédio”, argumentou.

Para o ex-ministro só é possível flexibilizar o retorno das aulas em escolas e localidades em que as condições sanitárias e de controle da pandemia estiverem totalmente dentro dos parâmetros da Organização Mundial da Saúde. “Como o Brasil é muito grande, você pode ter localidades específicas onde isso seja possível, mas você não pode ter isso como uma regra nacional voluntarista, é muita irresponsabilidade. A retomada tem que ser analisada escola por escola, sala de aula por sala de aula e não é isso o que temos no Brasil neste momento”, explicou.

Segundo Mercadante, essa precipitação pela volta das aulas atende ao lobby empresarial poderosíssima das escolas privadas, que estão perdendo matrículas durante a pandemia. “Há um interesse econômico e comercial, que é compreensível, já que eles estão perdendo matrícula, estão perdendo muito dinheiro e algumas instituições não têm oxigênio para suportar pagar os ônus da folha de pagamento nessas condições. Mas, por isso que eu digo, o Estado deveria pensar uma política pública, ter um programa específico para essas escolas”, afirmou.

“Eu acho que há um esforço imenso para dizer que acabou a pandemia. Mas, não adianta essa angústia, essa precipitação e esse voluntarismo, principalmente, de gente que não entende nada, que não é da área da saúde, que não é da área da educação, que nunca viveu por dentro o sistema e que agora quer fazer uma proposta irresponsável e demagógica como essa de retorno as aulas”, prosseguiu. O ex-ministro avaliou, ainda, que país está desde março sem atividade acadêmica e não é um período a mais que vai comprometer a vida e futuro dessas crianças e adolescentes.

Por fim, questionado sobre a decisão de alguns estados e municípios de forçarem a volta obrigatória das aulas, Mercadante respondeu que acredita que haverá um racha tanto entre os pais, quanto entre as instituições. “. Não há consenso. Por exemplo, as escolas estão exigindo para as crianças voltarem que os pais assinem um termo de responsabilidade, de que a responsabilidade pela saúde é dos pais. Então, muitos pais não estão seguros e não estão aceitando essa situação”, concluiu.

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