Há 37 anos, desafiando a ditadura vigente no Brasil, o Congresso Nacional da Classe Trabalhadora aprovava a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a primeira central sindical criada após o golpe de 1964 e a primeira no país a ser lançada pela base. Reunidos por três dias em São Bernardo do Campo (SP), na antiga sede da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, 5.059 delegados de 912 entidades sindicais elegem a primeira direção provisória da entidade, com mandato de um ano, tendo como presidente Jair Meneghelli, metalúrgico de São Bernardo.

A fundação da CUT ocorreu dois anos depois de ter sido aprovada na 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat). Veja o registro histórico deste momento pelas lentes de Rosa Gauditano, fotografia arquivada pelo Centro Sérgio Buarque de Holanda. O jornal Em Tempo nº 135, de setembro de 1981, traz uma importante entrevista de balanço da CONCLAT do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Inácio Inácio Lula da Silva.

“A importância histórica fundamental da CONCLAT foi a demonstração de que é possível o movimento sindical tomar posições mais sérias independentemente da estrutura sindical oficial que existe no país. Ela demonstrou que a classe trabalhadora hoje, exige um posicionamento mais eficaz e combativo dos dirigentes sindicais. E demonstrou isso inclusive com muita maturidade ao não criar a CUT já, como muita gente esperava. e sim uma Comissão que pudesse preparar o próximo congresso onde, aí sim, a Central Única dos Trabalhadores será formada. O fato histórico então, está em que a gente deu o primeiro passo para a criação de nossa Central Única”.

Da 1ª Conclat em 1981 até a criação da CUT em 1983, houve intensa disputa entre as correntes sindicais ligadas ao PT e os dirigentes ligados ao PCB, PCdoB e Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que eram contrários à criação de uma central independente da estrutura oficial de sindicatos e confederações. Esses grupos integraram a CUT por um curto período. Em 1986, fundariam a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT).

O impasse na criação da entidade foi rompido no momento em que o governo do general presidente João Baptista Figueiredo tentava implantar um arrocho salarial tão duro quanto o que foi imposto pelo primeiro general da ditadura, Castelo Branco. Sindicatos das duas correntes participaram da greve geral de protesto, em 21 de julho.

A primeira reivindicação da CUT foi a retirada do Decreto-Lei 2.045, em tramitação no Congresso Nacional, que limitava os reajustes salariais a 80% do índice de inflação do período. O congresso de fundação aprovou também a luta pelo cancelamento dos acordos com o FMI, contra as intervenções nos sindicatos (como os de petroleiros e bancários de São Paulo) e pela reforma agrária.

A criação da CUT foi um desafio à legislação sindical, que proibia a organização dos trabalhadores de diferentes categorias numa só entidade. Mesmo não sendo “única”, a CUT foi desde o princípio a maior central sindical brasileira e tornou-se a maior da América Latina. A primeira direção executiva era formada por:

·  Jair Meneghelli – Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema (SP)

·  Paulo Paim – Metalúrgicos Canoas (RS)

·  João Paulo Pires de Vasconcelos – Metalúrgicos  de João Monlevade (MG)

·  Jacó Bittar – Petroleiros de Campinas(SP)

·  Abdias dos Santos – Metalúrgicos de Niterói (RJ)

·  José Novaes – Rurais de Vitória da Conquista (BA)

·  Avelino Ganzer – Rurais de Santarém (PA)

· Julieta Villanil Balestro – Professores do Rio Grande do Sul.

Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, que é mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.

 

 

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