No dia 27 de agosto de 1980, três bombas explodiram no Rio de Janeiro. Uma causou a morte de D. Lyda Monteiro, secretária da Ordem dos Advogados do Brasil. Outra, no gabinete do vereador Antonio Carlos Carvalho, destruindo a sala, ferindo funcionários e mutilando barbaramente seu chefe de gabinete, José Ribamar. Uma terceira, na madrugada, danificou a sede do jornal Tribuna Operária.

O atentado à Câmara tinha objetivo de intimidar o MR-8 e atingir e calar Antonio Carlos.

Seu gabinete se tornara um centro de apoio à rearticulação das lutas populares. Na mesa do vereador havia um pequeno envelope, às 14h30, ao abrir a correspondência, José Ribamar Freitas, foi jogado pelos ares. Freitas, na época com 63 anos, jornalista aposentado, ficou cego, surdo, teve o braço esquerdo amputado, perdeu três dedos da mão direita, todos os dentes e teve as pernas queimadas.  O atentado só não lhe tirou a vida porque o teto do gabinete explodiu. Uma funcionária, grávida de seis meses, foi levada ao hospital. Um funcionário sofreu um infarto e outras duas funcionárias tiveram contusões e escoriações. Na época, o deputado Raymundo de Oliveira denunciou que a “bomba não foi colocada apenas com o propósito de ameaçar: era para matar mesmo. Se o teto não tivesse estourado, a explosão teria sido mais violenta, e todos que estavam na sala fatalmente morreriam”.

O ato terrorista é para jamais ser esquecido. E aqui lembro e faço a minha homenagem ao combativo Antonio Carlos de Carvalho, meu companheiro por 15 anos e pai do Marcelo, Valéria, Miguel, Joana, Gabriel e Flavia. Não houve inquérito ou investigação, pelo contrário, ainda tentaram incrimina-lo, com insinuações de que ele havia preparado o artefato e mandado para o seu próprio gabinete. Nenhum dos criminosos responsáveis pelo atentado foi preso ou julgado. E na época, no quadro de seguranças da Câmara, havia um torturador, reconhecido pelos que haviam passado pelos porões da Ditadura, e um outro que integrava o grupo de Mariel Mariscot.

Na década de 1980, quando se anunciava a abertura política, a ditadura militar tentava de todas as formas deter o avanço do movimento popular e suas lideranças. Muitos foram presos, sequestrados, ameaçados e intimidados. Antonio Carlos, que foi um dos mais combativos vereadores que a Câmara Municipal já teve, começou sua militância no MR-8 aos 17 anos no movimento estudantil. Foi preso no 30º Congresso da UNE em Ibiúna, em 1979, junto com centenas de estudantes. Em 1970 foi preso e encaminhado ao Quartel da Polícia Militar, na Barão de Mesquita, sede do Doi-Codi. Foi torturado violentamente por trinta dias, presenciando o bárbaro assassinato do dirigente comunista Mário Alves. Sua conduta e caráter marcaram sua trajetória política. Foi coordenador da campanha de Lysânes Maciel em 1974, e em 1976 foi eleito vereador com quarenta mil votos. Seu mandato foi dedicado a causas populares, seu gabinete era aberto aos sindicatos e entidades que começavam a se organizar.

Teve destacada e corajosa atuação na Campanha pela Anistia e na reconstrução da UNE, foi ameaçado durante dois anos pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Foi perseguido, sua casa invadida várias vezes, aparelhos de escuta foram colocados em seu gabinete. Sua coragem e combatividade não agradavam a ditadura. Com a intenção de intimidar e atingir seu mandato a repressão enviou uma carta bomba ao seu gabinete. Antonio Carlos foi um dos fundadores do MDB e articulador da unidade das forças patrióticas e democráticas na vitória das eleições de 1982 e na campanha pelas Diretas.

O combativo Antonio Carlos faleceu em 1993, aos 45 anos, deixando para todos nós um exemplo de dignidade e honradez. A herança para seus filhos foi o imenso amor e respeito que dedicou ao seu povo e à humanidade. O salão nobre da Câmara Municipal do Rio de Janeiro leva o nome de Antonio Carlos de Carvalho.

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