Em entrevista ao programa DCM Ao Meio Dia, nesta terça-feira (25/8), ao analisar as recentes agressões do presidente da República, Jair Bolsonaro, à imprensa, o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, declarou que o Bolsonaro “paz e amor” é fake. Durante o evento “Vencendo a Covid-19”, realizado na segunda-feira (24/8), Bolsonaro disse que jornalista é “bundão”, um dia após afirmar que tinha vontade “de encher de porrada” a boca de um repórter do jornal O Globo.

“Eu o conheço desde os anos 90. É só olhar o histórico dele. Ele sempre foi do confronto, da provocação, da agressão, do tensionamento. Os valores de um sujeito que dedica o voto dele ao Ustra, que era o principal torturador país, não precisa dizer mais nada”, afirmou o ex-ministro. Mercadante também relembrou que Bolsonaro sempre defendeu a tortura, a repressão, a censura e que ele fez a campanha presidencial assim. “Portanto, a imprensa não pode se dizer surpresa com esse tipo de agressão”, analisou.

Mercadante afirmou ainda que sempre que Bolsonaro é Bolsonaro ele passa dos limites. “Ele passa dos limites do decoro que tem que ter um presidente da República, da estatura, do comportamento, do respeito ao outro. Como é que pode dizer para um jornalista ‘eu vou te dar uma porrada?’ Porque o jornalista fez uma pergunta que o Brasil inteiro ainda não ouviu a resposta, que são os 89 mil reais depositados na conta da esposa dele, isso não é uma questão qualquer”, explicou.

Além disso, o ex-ministro classificou a atitude de Bolsonaro de chamar jornalistas de “bundões” como algo inacreditável do ponto de vista da história. “São 55 agressões à liberdade de imprensa que ele já fez no exercício do seu mandato. Mas, vários veículos seguem apoiando incondicionalmente o governo dele nessa agenda de retrocesso civilizatório e também essa política de retirada de direitos e de retirar os pobres do orçamento, que é o centro da política econômica do Guedes”, afirmou.

Tempestade perfeita

O ex-ministro avaliou que são crescentes os indícios de envolvimento do clã Bolsonaro com a rachadinha do Queiroz. “Ele mudou de atitude quando ele viu que havia uma tempestade perfeita se formando em cima do governo dele. O Supremo partiu pra cima das fake news, mas não é só essa questão, a prisão do Queiroz foi um ponto de inflexão e os 46 pedidos de impeachment no Congresso. Ou seja, havia um movimento muito forte, uma rejeição a esse comportamento genocida, que ele teve na pandemia, que não precisava ter sido assim no Brasil”, disse.

Para Mercadante todas essas questões acumuladas geraram um inconformismo na população, que obrigou Bolsonaro a recuar na radicalização e a terceirizar o governo para os generais e para Paulo Guedes. “Eu acho que ele está sentindo isso, eu acho que ele viu que o problema da rachadinha não acabou, as investigações continuam e a família, o clã todo está exposto nessa história, cada dia é um fato novo. A justiça acomodou e protegeu, mas a tensão continua e ele se desiquilibra e quando ele se desiquilibra, ele é ele, ou seja, ele é isso: grosseria, desrespeito, agressão”.

Neofacistas e sistema financeiro

Em sua análise, o ex-ministro pontou que, esse cenário, acirrou o conflito no centro do governo Bolsonaro entre a base neofacista e a sustentação neoliberal fiscalista do sistema financeiro. “Essas duas coisas não se juntam. Então, a tentação dele é o tempo inteiro alimentar essa base neofacista, obscurantista de ultradireita, que mobiliza na defesa do mandato dele, mas mantendo uma aliança com o capital financeiro que é o que lhe dá estabilidade institucional, e aí vem o teto de gastos e a ortodoxia fiscal. Mas, os dois não vão conviver”, afirmou.

“Essa aliança vai implodir, como já implodiu vários setores do governo dele, como o lavajatismo. Então, nós estamos aí no limiar para ver para onde vai o governo porque até o final deste mês ele tem que apresentar a Lei Orçamentária Anual para 2021. Mantido o teto de gastos, ele só pode incluir 31 bilhões de reais no orçamento do ano, de 1,485 trilhão de reais, ou seja, nada, é 2,3%”, prosseguiu. Mercadante exemplificou que só o auxílio emergencial de  seiscentos reais por mês custa 51 bilhões por mês e, se for mantido o teto de gastos e a ortodoxia fiscal, o governo só vai ter 31 bilhões de reais no ano, o que irá aumentar fortemente a pressão e a tensão dentro do governo.

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