Uma das heranças malditas que o atual governo argentino de Alberto Fernandez e Christina Kirchner recebeu de seu antecessor Mauricio Macri foi uma dívida externa global de 323 bilhões de dólares que aumentou de 50% a 90% do PIB do país em quatro anos dos quais 66 bilhões de dólares foram somente com credores privados representados por vários fundos de investimentos.

A dívida global que se acumulou desde o período da ditadura militar, mas que quase dobrou no governo Macri, e a agiotagem privada com taxa de juros da ordem de 7% ao ano ameaçavam duramente as perspectivas econômicas do país. A possibilidade de um default (não pagamento) de uma parcela de dois bilhões de dólares que venceu no início de agosto acabou acelerando a celebração de um acordo que já vinha sendo negociado há alguns meses, pois caso ocorresse, o assunto iria para discussão em tribunais internacionais com resultados demorados e imprevisíveis.

A firmeza do governo argentino tendo à frente das negociações o ministro da Economia, Martin Guzmán, em consulta permanente com o presidente e a vice, somado ao interesse de três fundos que detém aproximadamente metade desta dívida – Ad Hoc, Exchange e ACC – em resolver o assunto gerou um acordo que permitirá ao governo economizar 37,7 bilhões de dólares entre 2020 e 2030, recursos fundamentais para, pelo menos, retomar o crescimento econômico e social no período pós pandemia da Covid-19.

Para alcançar este desconto acordou-se reduzir a taxa de juros de 7% para 3,07% ao ano e o vencimento dos títulos emitidos pelo governo representarão um dispêndio nos próximos cinco anos de 4,5 bilhões dólares em vez dos 30,2 bilhões de dólares previstos originalmente.

No entanto, mesmo com esta negociação a dívida global da Argentina é impagável sem comprometer o futuro do povo, pois como dizia o escritor uruguaio, Eduardo Galeano, “quanto mais pagamos, mais devemos e menos temos”. Nesse sentido, o movimento social argentino também pressiona o governo por negociações que equacionem o problema e propõem uma auditoria da dívida global para que se saiba o que é devido realmente.

A expectativa agora é também negociar um acordo com o FMI para reestruturar o pagamento de um empréstimo de 44,5 bilhões de dólares que Macri também fez, além de empréstimos menores que tomou junto ao Banco Mundial e ao BID. O restante da dívida é representado por empréstimos de bancos privados e emissão de títulos do governo.

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