Por Jéssica Sinai Silva Souza, vice-presidenta do PT/Bahia

A resistência das mulheres negras mudou a história do Brasil, pois buscaram a libertação para seu povo, liderando e articulando os movimentos dos negros em prol da abolição. Seja pela condição financeira que tinham, pois muitas mulheres negras eram ganhadeiras e podiam financiar levantes, ou através da articulação de fugas, pelo suicídio como ato de insurgência ou até mesmo pela liderança de quilombos. Percebemos na história do Brasil que as mulheres negras foram o alicerce do fim da escravidão no país.

Lembremos, com orgulho, de Tereza de Benguela, mulher forte que liderou o quilombo Quariterê, no Mato Grosso, onde abrigava uma população de mais ou menos 300 pessoas, formado por negros, índios e mestiços, fugitivos do trabalho forçado nas minas de ouro e pedras preciosas. Tereza é a inspiração para comemorarmos o Julho das Pretas, tendo como luz o 25 de julho, dia Internacional da Mulher Negra Latina e Caribenha e, também, da guerreira Tereza de Benguela.

O Julho das Pretas é mais que uma agenda comum de ações do movimento de feminismo negro do Brasil, é um momento de reflexão sobre as problemáticas e as prioridades das políticas públicas voltadas para as mulheres.

Julho de 2020 será marcado intensamente para as mulheres pretas do Brasil. Infelizmente não será lembrado pela realização de uma grande marcha na capital do país, mas sim pelos significantes aumentos dos indicies de violência e feminicídio, acentuados devido à pandemia do COVID-19.  Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o número de feminicídio cresceu 22% no Brasil. Já na Bahia, a violência contra a Mulher cresceu 54%, segundo os dados do Disque 180.  Ainda são as mulheres negras as principais vítimas do coronavírus, pela condição física, proveniente de doenças crônicas mais presentes em mulheres negras, como hipertenção e diabetes, e também pela condição econômica e social que expõe às mulheres a rotina de trabalho diário, de moradias em comunidades onde não possuem água potável, muitas vezes em casas com cômodos pequenos para grandes famílias, e vária outros aspectos que acentuam a desigualdade entre mulheres brancas e negras.

Neste Julho de 2020 vamos lembrar e nos solidarizar com Mirtes Souza, uma mãe, empregada doméstica, que perdeu seu filho de cinco anos vítima do descaso de sua patroa, uma representante da elite pernambucana, que abandonou o incapaz em um elevador sozinho em busca de sua mãe. Mirtes representa a dor e o sofrimento secular das mulheres negras, que são vítimas diariamente do racismo, da injustiça, da desigualdade e do descaso. A dor que a mãe de Miguel sente hoje é a dor das nossas antepassadas que foram brutalmente separadas de seus filhos e parentes, em uma época onde eram tratadas como mercadoria.

Precisamos reagir ao racismo que ainda fere e mata os nossos, inspiradas na história e na luta de Tereza de Benguela, Luíza Bairros, Adelina, a charuteira, Luiza Mahin, Mãe Stela de Oxossi e tantas mulheres negras que escreveram a história de resistência do povo negro.

`