“Eu não acredito no fim do governo Bolsonaro se não houver uma forte pressão, uma intensa luta e muita pressão popular sobre as instituições”. A declaração é de Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-ministro da Educação, ao programa Bom Dia 247, nesta quinta-feira, 18 de junho, ao comentar a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro.

Para o ex-ministro, o caso da rachadinha envolvendo o senador não significa necessariamente a queda do governo Bolsonaro, já que o episódio vem sendo postergado há muito tempo, apesar de todas as evidências de ilegalidade. “É inacreditável essa história, que já tem quebra de sigilo, está toda documentada. Há evidências. São provas materiais irrefutáveis. Houve lavagem de dinheiro, transferência ilegal, está tudo provado, os outros parlamentares foram punidos, e isso vem sendo postergado. Por isso, eu não tenho tanta segurança de que esse fato, agora, seja um xeque-mate, vamos aguardar”, afirmou.

Militares
Questionado se a prisão de Fabrício Queiroz não poderia fazer com que os militares retirassem o apoio ao governo Bolsonaro, Mercadante afirmou que não acredita que o episódio altere o apoio do segmento dos militares que já está no governo. “Quais militares que estão no governo não sabiam disso? São aproximadamente 2,9 mil militares no governo, quase um terço dos cargos de confiança, nove ministros generais, um almirante. Isso não tem precedentes. Eu acho que esses que estão, já sabiam de tudo isso, porque era público o episódio da rachadinha, do Queiroz. Isso acontece há muito tempo. São informações de amplo conhecimento. Por isso, eu acho que esse episódio não altera o apoio desse segmento dos militares”, disse.

As ruas falarão
Em sua análise, Mercadante pontuou que as instituições começam a atuar contra o autoritarismo de Bolsonaro. “Há uma tentativa de contenção dos arroubos autoritários, o STF tem feito esse papel, o Congresso, às vezes. Mas, não sou tão otimista para achar que isso signifique necessariamente o fim. É só você ver que o PSDB, o DEM e outros partidos desse centro liberal conservador já estão trabalhando com a ideia “Bolsonaro fica” e se manifestando claramente contra o impeachment ou qualquer movimento de afastamento. Tentam empurrar, por medo das ruas”, explicou.

“As ruas falarão. Essas primeiras manifestações são dos jovens das periferias, porque são eles que estão expostos, são eles que estão morrendo, estão andando em ônibus e metrô entupidos, estão indo trabalhar em condições precárias”, disse. “Mas, depois disso, quando a pandemia ceder, essa demanda reprimida contra o Bolsonaro vai pra rua, teremos panelaços. Amplos setores sociais não aceitam o que está acontecendo, como o enfrentamento da pandemia está sendo conduzido. Oito estados já estão com 80% dos leitos de UTI ocupados, essa política econômica completamente nefasta, os ataques as instituições”, apontou.

Terra arrasada na educação
No Bom Dia 247, Mercadante também comentou a gestão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que ele classificou como o legado de uma tragédia para a educação. Para o ex-ministro, na educação superior, a atuação de Weintraub foi de agressão às universidades públicas e desrespeito à autonomia das instituições, à liberdade acadêmica e à pluralidade do pensamento.

Mercadante apontou ainda o fim do Fundeb como outra tragédia anunciada na educação. “O ministro obstruiu aprovação do fundo, que representou mais ou menos, no ano passado, R$ 148 bilhões, que são redistribuídos entre as escolas públicas de educação básica. Sem o Fundeb teremos um desequilíbrio brutal no financiamento, a inviabilização das escolas mais pobres e o fim do piso salarial dos professores”.

“Então, eu acho que seu legado é uma tragédia na educação básica e na universidade, além do desmonte da educação técnica profissionalizante e de ter acabado com a TV Escola”, analisou Mercadante. “O Future-se, que foi o grande programa que ele lançou, foi rejeitado por toda comunidade universitária, não trabalharam nada na formação de professores, esvaziaram os programas de pós-graduação, tentaram aparelhar a Capes com essa visão obscurantista de minimizar as Ciências Humanas e de tentar introduzir pesquisas criacionistas. Então, não tem nada que se possa dizer, é terra arrasada e um retrocesso brutal”, concluiu o ex-ministro.

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