Diante da miséria e do caos, sonho do Paulo Guedes é não fazer nada
Dado a classificar pessoas e grupos sociais de “parasitas” ou a afirmar que se preocupar com pequenos empreendedores é “perder dinheiro”, o ministro Paulo Guedes sonha, na verdade, em não fazer nada.
A opinião é do economista Pedro Rossi, que participou na noite de sexta-feira, 29 de maio, da live Economia da Coronacrise, promovida pelo Observatório da Coronacrise da Fundação Perseu Abramo.
Para Eduardo Fagnani, outro economista que participou do debate, a postura do governo federal e de seu ministro da Economia instaura um “quadro gravíssimo”, porque recusar-se a usar maciçamente recursos públicos durante a pandemia, num país em que 25 milhões de pessoas vivem com até R$ 117 por mês e outros 28 milhões com apenas R$ 343 de renda per capita mensal, é virar as costas para sua obrigação.
“O Brasil vinha navegando numa agenda de austeridade, que não vem só deste governo, e a emenda constitucional 95 foi um marco desta agenda. E o país vinha naufragando em termos de resultados econômicos, e se depara com uma crise que altera a natureza da condução econômica e da atuação do estado em todos os países do mundo. O discurso dominante muda conforme a crise vem. O gasto público era o grande problema da economia brasileira, e era preciso cortá-los. Mas esta agenda ficou de lado (no restante do mundo). Mas toda a equipe técnica, o próprio ministro (mantêm) esse discurso, que ainda está impregnando todas as ações do governo. É um ministro que está ali pra destruir, e a gente precisa construir, montar. O sonho do Paulo Guedes é não fazer nada”, afirmou Pedro Rossi.
Para Fagnani, o grande fator de risco da coronocrise, no Brasil, é a desigualdade. “É um quadro assustador. No Brasil, 25 milhões vivem com 117 reais, são os 10% mais pobres. Isso é duas vezes e meia a população de Portugal. Outros 28 milhões têm renda domiciliar per capita de 343 reais. Ao todo,137 milhões ganham só até um salário mínimo. 100 milhões de brasileiros moram em casas sem banheiro”, apontou. Em tal cenário, na opinião de Fagnani, o Estado jamais deveria ter interrompido investimentos na melhoria das condições de vida e, nesta crise, precisa alocar recursos para “proporcionar renda para as famílias de maneira rápida e urgente”.
O debate, mediado por Márcio Jardim, diretor da Área Internacional da Fundação Perseu Abramo, conclui que o momento exige que o governo federal assuma a função estatal de injetar recursos para salvar vidas e resgatar a economia de uma queda que só se aprofundará caso a política de corte de gastos, austeridade e reformas restritivas permaneça.
Sobre a ideia de que o Estado não tem dinheiro e não pode gastar, os economistas são taxativos: há dinheiro e o gasto pode se expandir mais sem temor de crescimento da dívida, que será absorvida no longo prazo.
“A Inglaterra, após a Segunda Guerra Mundial”, exemplificou Rossi, “acumulou uma dívida de 250% em relação ao PIB, e mesmo assim fez os investimentos para o Estado de Bem-Estar Social. Conforme o país cresce, essa relação vai diminuindo”, disse.
Para assistir o debate, clique aqui.
O Observatório da Coronacrise é o programa do Observatório da Crise do Coronavírus (clique aqui para acessar), iniciativa da Fundação Perseu Abramo para monitorar a crise sanitária e econômica gerada pela pandemia e promover esforços no sentido de atenuá-la e até de superá-la.
O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube e em sua página no Facebook, além de ser retransmitido pelas redes sociais de Dilma Rousseff e Fernando Haddad, e dos portais parceiros: Revista Fórum, DCM e Brasil 247.