No dia 3 de maio uma pequena lancha com dez mercenários à bordo vinda da Colômbia tentou desembarcá-los na costa venezuelana, mas eles se confrontaram com as forças de segurança e oito deles foram mortos e dois presos. No dia seguinte, outro contingente de cinquenta mercenários, num barco maior, seguiram o mesmo caminho, mas ao tomarem conhecimento do que ocorrera com seus comparsas e por falta de alternativas, cerca de 40 deles foram deixados em diferentes pontos do litoral venezuelano e somente oito chegaram ao destino final na região de Chuao no estado de Aragua onde foram presos. Até o momento cerca de 17 deles foram capturados.

Entre os presos estavam dois ex-soldados estadunidenses e um deles, Luke Denman, contou que estavam à serviço de uma empresa de segurança chamada Silvercorp cujo dono, Jordan Goudreau, é um ex-integrante de uma das forças especiais (Green Barret’s) do exército dos EUA e que também já trabalhou como segurança pessoal de Donald Trump. Esse tipo de empresa se expandiu muito desde que o governo de George Bush privatizou os conflitos externos como as invasões do Afeganistão e Iraque. Denman revelou ainda que o objetivo da incursão era chegar a Caracas, sequestrar o Presidente Nicolás Maduro e levá-lo para os Estados Unidos. A operação teria sido desenhada em setembro do ano passado com a participação de exilados venezuelanos em Miami e com um contrato de US$ 212 milhões assinado, entre outros, por Juan Guaido, o auto proclamado presidente da Venezuela, conforme mostrou um documento divulgado pelo jornal Washington Post.

O presidente dos EUA, Donald Trump, negou que seu governo tivesse qualquer envolvimento com o ocorrido e que se tomasse alguma medida contra a Venezuela, “não seria uma incursão e sim uma invasão”. No entanto, é pouco plausível que ele não tivesse conhecimento e que não houvesse envolvimento do governo estadunidense, a começar pelo financiamento da operação que teria sido feito com recursos venezuelanos retidos nos EUA em função das sanções econômicas sofridas. Em segundo lugar houve os precedentes do Departamento de Justiça dos EUA de classificar Maduro e outros 14 integrantes de seu governo como narcotraficantes colocando um prêmio de US$ 15 milhões pela sua captura. Além disso, Trump mobilizou a Sétima Frota em torno do litoral venezuelano no mês de abril para desencadear uma suposta operação anti – drogas. Por fim, os mercenários treinaram na Colômbia, as lanchas partiram desse país e é pouco provável que o governo direitista colombiano não mantivesse sua congênere do Norte a par do que estava ocorrendo.

Além de tudo isso, há um histórico de tentativas de sabotagens e atentados contra dirigentes em Cuba financiadas por sucessivos governos dos EUA e que frequentemente envolveram exilados cubanos em Miami desde a invasão fracassada da Baía dos Porcos em 1961. Isso é tão evidente que a Anistia Internacional considera que metade dos presos em Cuba por supostas razões políticas são delinquentes envolvidos com sabotagens e atentados violentos. E agora, esse tipo de ofensiva se volta contra a Venezuela de forma parecida, mas pela reação que o governo deste país acabou de demonstrar, os opositores de Maduro não terão sucesso.

Kjeld Jakobsen é consultor da Fundação Perseu Abramo. As opiniões contidas neste artigo não refletem necessariamente a opinião da entidade.

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