A desmercantilização do livro é o desafio principal
23 de abril é considerado o Dia Mundial do Livro. Circulam, aqui e ali, campanhas em favor do livro nas redes sociais.
Em meio a pandemia que tomou conta do planeta neste 2020, o livro é realmente um dos melhores aliados para quem precisa e tem condições de ficar em casa, trabalhar em casa e garantir o isolamento social necessário para reduzir a onda de contágio do Covid-19.
E após o esplêndido advento da internet, o livro não depende mais da livraria física para ser mostrado e chegar aos leitores. Num país com números ridículos de livrarias, a maior parte delas concentrada nas capitais e cidades médias da região Sudeste e Sul, a internet nadou de braçada.
Há anos, é possível acessar monografias, dissertações e teses acadêmicas em acervos universitários. As agências de fomento em pesquisa e instituições de ensino respeitáveis estimularam a divulgação destes trabalhos, a maioria em formato pdf, como forma de divulgar e tornar mais visível projetos que receberam dinheiro público por meio de bolsas. Uma pequena parte deste conteúdo ainda se transforma em livros publicados por editoras universitárias e comerciais.
A Fundação Perseu Abramo foi pioneira em criar uma biblioteca digital com livros gratuitos, no formato digital em pdf. Lançou seu primeiro lote de 43 livros em 19 de setembro de 2007. Foi criticada à época pelas editoras comerciais de São Paulo, acusada de bagunçar o mercado de livros ao “dar livros de graça”.
Nosso argumento à época buscava ultrapassar os limites impostos pelas distribuidoras de livros num país continental que, apesar de tímida no tamanho, era uma rede impiedosa na cobrança do custo de sua remuneração. Não considerávamos justo reduzir a vida do livro a uma pequena edição, com circulação restrita.
O livro precisa cumprir sua função social como instrumento de transformação, educação e entretenimento. Pode ter uma edição impressa, comercial ou não, e após ter pagar seus custos de produção industrial, pode e deve ser distribuído gratuitamente em versão eletrônica.
Milhares de livros, ao toque dos dedos aí na sua tela
E é neste ambiente virtual que a gente encontrou, após uma busca rápida, uma série de boas e confiáveis fontes de livros eletrônicos (formato e-pub ou pdf) gratuitos, as quais apresentamos aqui, como contribuição aos nossos leitores e leitoras.
Vamos começar com a Z-Library e seu impressionante acervo de mais de 5 milhões de livros e 77,5 milhões de artigos. Obras em vários idiomas, em e-book e pdf, incluindo um infinidade de títulos brasileiros.
O usuário logado a partir de um cadastro muito simples, é possível você baixar gratuitamente até dez livros por dia, não é bárbaro? Ali é possível encontrar livros esgotados no Brasil há muito tempo, raridades que podem custar uma pequena fortuna em sebos.
O excelente Fondo de Cultura Econômica também merece destaque. É um grupo editorial sem fins lucrativos, parcialmente financiado pelo governo mexicano. Tem presença em oito países e, no México, conta com 115 livrarias. Chegamos a ter, nos anos 80 e 90, um livraria deste grupo na cidade de São Paulo, ao lado da PUC-SP.
Entre as editoras universitárias, destacamos a Editora da Unesp, parceira da Fundação Perseu Abramo em algumas coedições e uma das primeiras a disponibilizar sua biblioteca digital. Seu acervo contém 169 livros disponíveis para download gratuito em arquivos e-pub.
Outra iniciativa legal entre as universitárias é a da Editora da UERJ, com sua Biblioteca da Quarentena.
Por fim, destacamos a Universidade de São Paulo (USP) e sua biblioteca virtual, com o sugestivo nome de Portal de Livros Abertos com acervo de 332 títulos.
A Biblioteca do Congresso norte-americano tem um projeto bacana, em parceria com a Unesco desenvolveu a Biblioteca Digital Mundial. Ali é possível acessar mais de 19 mil itens de 193 países.
Vale a pena visitar também a Lê Livros, que possui uma quantidade legal de títulos disponíveis tanto para baixar quanto ler on-line. Seu acervo conta com 12,9 mil livros.
Resultado de trabalho voluntário, o E-Books Brasil oferece alguns títulos que podem interessar. Não é de fácil navegação, pois seu formato é antigo para os atuais padrões tecnológicos, mas vale a pena consultar.
Além destes, empresas comerciais feito a Amazon, a Google, Saraiva e Cultura. Utilizam o livro gratuito como chamariz para vender tanto publicações como outros produtos.
Passada a crise sanitária e a quarentena, oxalá o livro e a leitura façam parte, cada vez mais, da vida de milhões de pessoas.
Rogério Chaves é coordenador editorial na Fundação Perseu Abramo.
O texto não reflete necessariamente a posição da instituição.