A primeira e esperada entrevista de Nelson Teich, sucessor de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde desde a semana passada, trouxe pouca novidade. Na prática, repetiu seu primeiro discurso de que precisa de mais informações e ainda está estudando a situação do coronavírus no país. “A gente sabe muito pouco da doença”, afirmou.

Teich também disse que mais importante do que o teste em massa é o uso adequado que se faz deles. “Temos que deixar claro que teste em massa não significa testar a população toda. Não estamos falando em testar o país inteiro. A gente vai usá-lo de uma forma que as pessoas testadas vão refletir a população brasileira”, esclareceu. “A sabedoria de ter o dado, interpretar o dado e tomar ações a partir disso vai fazer toda a diferença”.

Muito embora diga que ainda se sabe pouco sobre a doença e a quantidade de testes realizados até o momento é insuficiente, ousou afirmar que “o Brasil hoje é um dos países que melhor performa em relação a Covid-19. Se você analisar mortos por milhão de pessoas, o número do Brasil é de 8,17. A Alemanha tem 15. A Itália, 135. Espanha, 255. Reino unido, 90 e Estados Unidos, 29”. Negando completamente a subnotificação dos casos pela baixa testagem, além de indicar números que divergem de diversas fontes.

Ignorou também a superlotação do sistema de saúde em diversas cidades, ao declarar que por mais que se foque na Covid-19, é fundamental que não se esqueça das outras doenças e lembrou que “pessoas estão morrendo de enfarte em casa por medo de irem a hospitais”. Segundo Teich, não está acontecendo um “crescimento explosivo” da doença no país.

Nelson Teich não chegou a afirmar o fim do isolamento social, mas anunciou que o governo está estudando medidas e tem um plano de saída da quarentena, mesmo diante de alertas do próprio Ministério da Saúde de que o país ainda não chegou ao pico de infectados e hospitalizações pelo coronavírus e de que o final de maio costuma ter o pico das internações por doenças respiratórias. De acordo com dados do Ministério da Saúde, no ano passado o país ultrapassou duas mil hospitalizações por síndromes respiratórias agudas graves (SRAG) entre os dias 27 de maio e 2 de junho.

O projeto que está sendo elaborado pelo Ministério da Saúde será apresentado de forma completa na próxima semana e deve considerar aspectos como disponibilidade de leitos, número de profissionais e disseminação do vírus para apontar as diretrizes para que estados e municípios comecem a retomar as atividades econômicas, a partir da flexibilização do isolamento social, como quer Bolsonaro

O ministro não apresentou um calendário para a implementação das medidas de afrouxamento do isolamento social, mas afirmou que “é impossível um país viver um ano, um ano e meio parado” e que o governo atuará da forma que considerar mais adequada em cada região do país, mas que governadores e prefeitos poderão recuar das medidas, se considerarem necessário, conforme já estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com autonomia para definir o tipo de isolamento mais  adequado e liberdade para acatar as medidas ou não.

De concreto, o Nelson Teich anunciou o novo secretário-executivo do Ministério, general Eduardo Pazuelo, comandante da 12ª Região Militar da Amazônia, uma escolha pessoal do presidente, e procurou fazer uma defesa do novo secretário-executivo. “Acredito que ele possa de verdade ajudar a criar um programa de crescimento compatível com a necessidade que nós temos hoje”, reafirmando seu compromisso de alinhamento com Jair Bolsonaro.

Também participaram da coletiva Walter Braga Netto, ministro chefe da Casa Civil, Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo, Tarcísio de Freitas, o ministro da Infraestrutura, Luiz Eduardo Ramos, ministro chefe da Secretaria de Governo e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. A imprensa teve direito a apenas quatro perguntas.

*Vilma Bokany é integrante do Grupo de Análise da Conjuntura da Fundação Perseu Abramo. O texto não reflete necessariamente a posição da instituição.

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