Bolsonaro escancara arbítrio: “Não queremos negociar”
O presidente Jair Bolsonaro retomou a escalada contra a democracia neste domingo (19) ao ganhar as ruas de Brasília, ir para a frente do Quartel General do Exército e apoiar manifestações em defesa de uma intervenção militar. O jogo perigoso de desprezo com a pandemia e o flerte indecente com o arbítrio foram rechaçados por líderes petistas, o presidente da OAB e dirigentes do PDT e PSOL, que clamam em defesa da democracia e alertam os Poderes da República que o país corre riscos diante da ofensiva de Bolsonaro.
“Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção têm que ser patriotas. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais do que um direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com o seu presidente”, disse Bolsonaro, aos gritos de “Mito”, “Fora, (Rodrigo) Maia” e “AI-5, Já”.
Neste domingo, estudo científico divulgado pelo Observatório Covid-19 BR estima que o coronavírus pode já ter matado entre 3.800 e 15,6 mil no Brasil. Os números oficiais mostram mais de 30 mil casos confirmados e 1.924 mortes, mas especialistas afirmam que há subnotificação, porque o governo não está fazendo testes. Na sexta-feira, Bolsonaro chegou a defender abertamente a reabertura das fronteiras do Brasil, ao pressionar para a retomada da maior economia da América do Sul. Enquanto isso, o desemprego atinge mais de 15 milhões e a economia deve cair mais de 5%, de acordo com o Fundo Monerário Internacional.
O pior é que, além da crise sanitária e econômica, com reflexos graves sobre a sociedade brasileira, o presidente da República joga abertamente numa crise política em um momento grave, o mais dramático dos últimos 50 anos da história da República.
Irresponsabilidade – “De novo Bolsonaro e sua irresponsabilidade”, reagiu a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). “O presidente provoca aglomeração para fazer discurso político e incentivar ilegalidades. É a receita perfeita para uma tragédia”, denunciou.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, advertiu que Bolsonaro rompeu os limites do jogo democrático. “O presidente da República atravessou o Rubicão”, declarou. “A sorte da democracia brasileira está lançada, hora dos democratas se unirem, superando dificuldades e divergências, em nome do bem maior chamado LIBERDADE!”
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que disputou a eleição presidencial de 2018 contra Bolsonaro, ficou indignado com o tom provocador de Bolsonaro, que desafia claramente as instituições democráticas brasileiras. “O verme, mais uma vez, diz a que veio. Até quando os democratas suportarão tanta provocação, sem nada fazer? O dia do fora já chegou!”, cobrou.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, também reagiu à manifestação de Bolsonaro. “É inadmissível que o presidente da República discurse em tom de apoio para manifestantes com cartazes que pedem volta da ditadura militar e do AI-5”, criticou. “O apóstolo da ignorância avança em seu projeto de destruição da democracia”.
O ex-candidato a presidente pelo PSOL, Guilherme Boulos, também foi duro ao denunciar o jogo perigoso do presidente da República. “Bolsonaro participou hoje de manifestação em defesa do AI-5 em frente a um quartel. Todos os limites já foram ultrapassados. E sobram razões jurídicas para retirá-lo da presidência: fraude eleitoral, crimes de responsabilidade e contra a saúde pública. Tem que sair com urgência!”
Os líderes do PT na Câmara e no Senado também foram incisivos em rechaçar o ataque do presidente da República. “Bolsonaro discursou hoje para manifestantes que participaram de um protesto em Brasília que, entre outras bandeiras, pedia o fechamento do Congresso e do STF”, criticou o líder Enio Verri (PT-PR). “Bolsonaro atenta contra a democracia”.
O senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado, alertou que o país está entrando num pico de contágio do Covid-19 e que o presidente age de maneira inacreditável. “Quase 3 mil mortes e 40 mil casos oficiais. Mais de 200 novos mortos todos os dias pelo coronavírus e o irresponsável presidente do Brasil volta a promover aglomerações com seus militantes”, criticou. “Com tosse forte, Bolsonaro ainda encosta nos presentes”.