Desde a nossa última atualização do Boletim do Pan-Africanismo Today #1, em 20 de março de 2020, mais de 22 países relataram seus primeiros casos de Covid-19 na África. O número de casos confirmados quase triplicou e, atualmente, está em 5.431 pessoas. A preocupação dos especialistas é se os países africanos têm capacidade para testar e rastrear adequadamente os casos suspeitos e, ainda, que o vírus esteja se espalhando pelo continente sem ser detectado. Os governos reagiram ao aumento de casos confirmados, instituindo normas rígidas para a realização de viagens entre a África e os países de outros continentes, entre os países africanos, e dentro dos próprios países. Os especialistas estimam que o pico da pandemia no continente será sentido entre as próximas duas ou três semanas.

Uganda, Lesoto, Gana, Zimbábue, Ruanda, Tunísia, África do Sul, Sudão do Sul, Quênia, Marrocos e Líbia são alguns dos países africanos que restringiram o movimento dos seus cidadãos. Porém, os tipos de bloqueios variam de país para país. Na África do Sul, o movimento de todos os cidadãos foi restringido. As pessoas devem ficar em suas casas por três semanas e só podem sair para acessar serviços essenciais. Na Líbia, o estado instituiu um toque de recolher de 24 horas, semelhante ao bloqueio da África do Sul, mas por um período de 10 dias.

Quênia e Marrocos instituíram restrições para a realização de viagens, impedindo os não residentes de viajar para seus respectivos países e locais públicos, como restaurantes, escolas e locais de culto, estão fechados. Além disso, o Quênia instituiu um toque de recolher para que todas as pessoas fiquem em casa entre as 19h e as 5h. Países como Senegal e Costa do Marfim declararam estado de emergência, aderindo a esta longa lista de estados africanos que estão usando medidas extraordinárias para conter a disseminação de Covid-19.

Essas mudanças na governança resultaram em um forte aumento da presença militar em todos os países do continente, com os países exibindo seu monopólio sobre o uso da força, enquanto empregam a violência para fazer cumprir as normas de bloqueio. Na segunda-feira, foram relatadas duas mortes causadas pela polícia ao aplicar as normas de bloqueio na África do Sul, enquanto o número de mortes causadas pelo vírus no país são três. Um homem foi supostamente espancado pela polícia até a morte, enquanto outro foi morto a tiros. Da mesma forma, em Ruanda, a polícia é acusada de matar dois homens depois de tê-los detido. No Quênia, a polícia está sendo fortemente criticada pela força que está usando para atacar civis ao impor o toque de recolher. A polícia das Ilhas Maurício está sendo investigada por usar a tortura para fazer cumprir as normas de bloqueio.

Os bloqueios são importantes para conter a propagação do Covid-19, uma vez que são o principal instrumento para restringir a movimentação de pessoas. No entanto, eles também são armadilhas mortais para os pobres que dependem do trabalho informal para prover suas famílias e comunidade. A pandemia revelou a divisão de classes, a competição por recursos e como os pacotes de ajuda estatal são sustentados por questões de sobrevivência econômica – focados na sobrevivência do setor formal de negócios e sem uma resposta adequada as perdas sofridas pelo grande número de comerciantes informais.

Os países africanos estão buscando o apoio do setor privado para angariar recursos para combater a pandemia. No início da semana, o magnata chinês, Jack Ma, ajudou a African Union por meio da doação de 1,5 milhão de kits para testar o Covid-19 e de recursos para prevenção e controle da doença. Na África do Sul, Nicky Oppenheimer, Patrice Motsepe e Johan Rupert doaram 1 bilhão de Rands, cada, para ajudar pequenas empresas a se recuperarem do impacto do Covid-19. Está claro que a assistência à África é amplamente alimentada pelos interesses econômicos do capital privado e do estado, e que o combate a pandemia na África não pode ser um “Recorta e Cola” dos métodos europeus de combate ao vírus. O contexto da África é específico e fruto do seu histórico e da sua cultura. Por exemplo, a expectativa de vida da África é de 64,1 anos, enquanto a da Europa é de 79,1 anos.

A taxa de mortalidade infantil na África é de 41,6, para cada 1.000 crianças nascidas vivas, enquanto a taxa da Europa é de 3,4. Além da demografia, as condições socioeconômicas permitem que a Europa seja conhecida como um continente de primeiro mundo, enquanto a África é caracterizada como um continente do terceiro mundo. A mensagem global de “achatar a curva” e, portanto, diminuir a propagação do Covid-19, por meio da lavagem regular das mãos e do uso de desinfetante, não se encaixa perfeitamente na realidade da África em função da pobreza e da escassez de água. Quase um bilhão de africanos não têm acesso a água limpa e potável. Uma medida igualmente importante, como o isolamento voluntário, é difícil de ser colocada em prática nas favelas da principais cidades africanas como Nairóbi, Lusaka, Kinshasa, Joanesburgo, entre outras. Por exemplo, Alexandra é uma das muitas favelas de Joanesburgo, África do Sul. A população da área é estimada em mais de 700.000 pessoas, que vivem em uma área de 6,9 km². Estima-se que a maior favela da África, Kibera, no Quênia, tenha uma população de mais de 1 milhão vivendo em uma área de 2,5 km². Kibera fica a apenas 7 km do centro de Nairóbi.

Continuamos a pedir que os governos a reajam à pandemia de Covid-19 de forma que priorize a classe trabalhadora na África e no mundo. Além disso, instamos os governos a serem cautelosos contra a adoção de medidas de austeridade que, em longo prazo, favorecerão o capital à custa da maioria dos cidadãos pobres.

Na terça-feira, 31 de março, o Africanews.com listou as estatísticas do Covid-19 para o continente. Um total de 5.431 casos confirmados, em 47 países; 146 mortes; 335 pessoas recuperadas; e nenhum caso confirmado do vírus em seis 6 países.

Este artigo contém atualizações sobre a pandemia mundial feitas pela Aljazeera News.

Tradução livre: Brigada Samora Machel

`