O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC denuncia que as montadoras Honda, Renault e Fiat Chrysler ainda não se posicionaram frente à avalanche do coronavírus e não anunciaram suspensão das atividades. Por causa disso, as indústrias fornecedoras da cadeia automotiva, muitas instaladas na região do ABC, não conseguem definir seu próprio calendário de paralisação. Presas a contratos de fornecimento que incluem pesadas multas para o não-cumprimento de prazos, as fornecedoras temem mais prejuízos e retaliações.

Portanto, se essas montadoras não anunciarem paralisação já para a próxima semana, o sindicato garante que vai convocar greve em todas as plantas industriais do setor que ficam no ABC, incluindo as fornecedoras, a partir do dia 30 de março.

“Essas montadoras não pensam de maneira conjunta, trabalham na lógica única da concorrência. Pensam que se pararem e as outras continuarem produzindo, vão perder mercado. E não consideram a vida e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras nem mesmo numa situação crítica como essa”, explica Wagner Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Três montadoras resistem a parar. Sindicato anuncia greve

Créditos: Roberto Parizotti

Wagner, presidente do sindicato

 

O sindicato também aponta a inação do governo federal como causa do problema. “A definição de paralisação de atividades de um setor de abrangência nacional depende de orientação do governo. E nós estamos sem governo. Temos um presidente e um ministro da Economia irresponsáveis”.

Anfavea

Wagner e a direção do sindicato têm buscado entendimento junto à associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea, para que parta dela uma orientação que coordene a suspensão das atividades e que planeje a minimização dos riscos para a cadeia produtiva. “Mas a Anfavea está sendo omissa”, acusa o presidente.

Outras montadoras, como VW, Mercedes, Toyota, GM e Scania já anunciaram suspensão das atividades e liberação remunerada dos trabalhadores e trabalhadoras, a começarem entre os dias 25 e 30. “Essa decisão não partiu espontaneamente dessas empresas”, revela Wagner. “Tivemos de pressionar”. O sindicato ainda tenta antecipar a paralisação para a próxima segunda junto a empresas como a VW.

Honda, Renault e Fiat não têm fábricas na região do ABC, por isso não estão na base de representação do sindicato presidido por Wagner. No entanto, muitos dos seus fornecedores, sim. A Caoa Chery tampouco anunciou suspensão de suas atividades. Sua planta em Jacareí está em greve, mas por causa da demissão de 59 trabalhadores. Em nota, a Anfavea informa que a decisão de suspender temporariamente a produção cabe às 26 empresas associadas, e que orientou as companhias a proteger os trabalhadores e adaptar os ambientes produtivos às novas exigências sanitárias.