O impacto do coronavírus nas eleições americanas
Em novembro deste ano ocorrerá a eleição presidencial nos Estados Unidos, evento considerado o principal na política internacional pois os rumos tomados pelo governo do país influenciam todo o sistema mundial. Tudo estava caminhando para uma possível reeleição do republicano Donald Trump: números bons na economia, baixa taxa de desemprego e, caso não haja nenhuma surpresa, o candidato democrata será Joe Biden que, segundo pesquisas, tem uma performance contra Trump pior do que seu adversário nas primárias, Bernie Sanders. Isso até o coronavírus (COVID-19), que pode causar algumas mudanças nesse rumo por três motivos principais, os quais deveriam da capacidade de Trump atuar e dar respostas nesse momento de crise.
O primeiro deles surge da questão de como Trump está se posicionando publicamente. Enquanto vários países estão numa corrida para achar uma vacina, o presidente americano tem uma base de eleitores que se consideram negacionistas em temas como o aquecimento global e a vacinação, os chamados “anti-vax”. O próprio Trump já deu declarações, antes de ser eleito, contra vacinas, associando elas com o aumento de autismo entre crianças, um argumento tradicional do movimento citado.
Além disso seus pronunciamentos têm sido considerados insuficientes e pouco claros. Na sua última fala, Trump anunciou a proibição de voos entre os Estados Unidos e a Europa, porém a transmissão do coronavírus já está em fase comunitária dentro do país (quando já não se sabe quem infectou quem) e a relutância do presidente em cancelar ou sugerir para a população ficar longe de aglomerações, como foi feito por governos em outros países, está sendo apontada como um dos motivos para o crescimento exponencial do número de infectados.
O segundo motivo vem da economia que, desde o começo do surto do coronavírus na China, está em crise no mundo todo. As ações na bolsa de valores americanas estão em queda livre e a proibição dos voos entre o país e a Europa foi apontada como causa de decepção entre os investidores, os quais esperavam medidas mais firmes por parte do governo para revigorar a economia. Alguns analistas apontam que os Estados Unidos poderá enfrentar uma recessão.
O terceiro e último motivo vem do debate sobre a saúde pública no país, pauta defendida fielmente por Sanders e que agora também começa a aparecer nas falas de Biden. Vale lembrar que nos Estados Unidos não há um sistema de saúde público, sendo que as pessoas são obrigadas a pagar até mesmo pela ambulância quando sofrem acidente. Trump se mostrou sistematicamente contra a implementação da saúde pública, sendo que uma das medidas do seu governo foi enfraquecer o “Obamacare”, programa que possibilitava às pessoas de classes baixas ter um plano de saúde com preço mais acessível.
Com o espalhamento do coronavírus, o debate gira em torno da importância ou não de um sistema de saúde público, já que o teste para o COVID-19 é pago, assim como seu tratamento e, por isso, há a possibilidade de muitas pessoas infectadas não procurarem ajuda em hospitais e centros médicos. Sanders defende que, quando for criada uma vacina, ela deve ser de graça para todos, enquanto Biden propôs expandir acesso gratuito para o teste do vírus. Trump, até o momento, não fez nenhuma proposta efetiva.
O quanto o coronavírus poderá influenciar nas eleições americanas ainda é incerto, mas as ações e a postura de Trump sobre isso poderá enfraquecer sua campanha.