Todo 8 de março é dia de pensar sobre a situação da mulher. Seguem então, de forma breve, quatro pontos para reflexão e debate neste dia 8 de março, sob o governo de um homem que considera as mulheres uma “fraquejada”.

Alvos de violência por serem mulheres: Machões que se sentem “empoderados” têm cada vez mais atacado (e assassinado) suas companheiras ou ex-companheiras: como mostrou levantamento da Folha , a estatística do feminicídio trilhou a contramão dos demais crimes violentos e cresceu 7,2% no país. Em 2019, 1.310 mulheres foram mortas por violência doméstica ou por sua condição de gênero. Vale lembrar que Bolsonaro afirmou recentemente que não pretendia reforçar o orçamento para políticas de combate à violência contra a mulher, pois a área não depende de dinheiro, e sim de “postura”, “mudança de comportamento” e “conscientização”.

Mais horas de trabalho: Cada vez mais os pesquisadores do mercado de trabalho têm levado em consideração, para contar a jornada de trabalho, também o trabalho doméstico/de cuidado não remunerado exercido no lar. O cuidar da casa, de idosos, de crianças e das necessidades da família em geral é algo socialmente identificado com o papel da mulher, em uma sociedade fortemente patriarcal como é o caso do Brasil. Porém, enquanto muitos pensam que isso é uma forma de amor, de cuidado com a família (e com os homens), isso é uma forma de exploração, de sobrecarga das mulheres, que muitas vezes precisam conjugar seu trabalho remunerado com as atividades de trabalho doméstico não remunerado. Assim, terminam o dia/a semana/o mês/a vida exaustas e sem poder se dedicar ao trabalho remunerado com a mesma liberdade e energia que poderiam ter caso as tarefas fossem divididas de forma igualitária com os homens. A visão do governo Bolsonaro de reforçar estereótipos de gênero (papel cumprido com maestria pela ministra Damares), contribui para reforçar esse peso nos ombros das mulheres.

Mais estudo e menor salário: no Brasil, as mulheres têm maior escolaridade que os homens, porém o rendimento feminino é em média menor que o masculino . Além disso, quanto maior a escolaridade, maior é a diferença de salário quanto ao gênero. Em outras palavras, mulheres com ensino médio completo tem em média um salário maior em proporção ao de um homem com ensino médio completo que mulheres com graduação completa em relação a um homem com graduação completa. Isso ocorre tanto pelo piso do salário mínimo, que garante (em tese) um piso para a remuneração em postos de trabalho com menor qualificação, mas também por preconceito enfrentado pelas mulheres em cargos de chefia e obrigações domésticas. Inclusive Bolsonaro afirmou que não contrataria mulheres pelo mesmo salário que um homem.

Maioria entre os mais pobres: a pobreza no Brasil tem raça (negra) e tem gênero (feminino) – as mulheres negras são as que mais sofrem com a vulnerabilidade . Nesse sentido, o aumento da pobreza que tem ocorrido no governo Bolsonaro e a política deliberada de deixar que a fila do Programa Bolsa Família aumente (programa este, aliás, conhecido por ser importante instrumento para autonomia da mulher pobre, que tem uma renda garantida caso decida deixar um companheiro violento) prejudica imensamente as mulheres.

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Trabalho dentro, trabalho fora: jornada e trabalho doméstico

Gênero e mercado de trabalho nos anos 2000: avanços e contradições

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