Eventos extremos são o novo padrão. Vale registrar que tanto as tempestades ocorridas em Minas Gerais, em janeiro, quanto as da cidade de São Paulo, nos últimos dias, ocorreram em meses com volumes médios de chuvas dentro do padrão dos anos recentes. Somente na capital paulista por exemplo, a frequência de tempestades como as de 10 de fevereiro, com mais de 100mm de chuvas por m2 em apenas um dia, quadruplicou em relação aos anos 1960, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Na realidade, há décadas atrás eram raras as chuvas superiores a 50mm, o que condizia com o então charmoso apelido da capital paulista, “a terra da garoa”.

Muitos estudos sérios, de diversos pesquisadores de diferentes países, há pelo menos duas décadas, já apontavam estas extremidades climáticas como consequência do aquecimento global. E os exemplos destas consequências estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano, como os recentes incêndios na Austrália, a extrema estiagem e desertificação no Pantanal, a desertificação em regiões da Amazônia e outras do mundo, extinção de espécies e, especialmente em grandes cidades, as tempestades aleatórias e frequentes e temperaturas mínimas mais quentes.

A nova frequência destes eventos extremos mostra que a preocupação deve ir além da redução de emissão de poluentes na atmosfera, principalmente as grandes cidades precisam urgentemente adequar sua infraestrutura, reduzindo sua área impermeabilizada por concreto, reestruturando o transporte público para que este seja mais eficiente e atraente, reduzindo consequentemente o uso de veículos particulares, descanalizando rios, o que reduz o índice de entupimento, acelerando as políticas de saneamento ambiental e qualificando as práticas de mitigação de riscos. São fartos os exemplos mundo afora. Nos casos paulistano e mineiro, e recorrentemente fluminense, o que deve-se ter em mente é que a culpa, definitivamente, não é da chuva.

Um fator agravante no atual momento político brasileiro é que, se os políticos e gestores públicos dos municípios e estados adotarem o pensamento dominante no governo federal, a não crença em mudanças climáticas e a inação frente a esta realidade, as consequências de tempestades, inundações e longos períodos de seca tenderão a ser cada vez mais trágicas. A surpresa não cabe mais, pois são tragédias anunciadas, com um número de vítimas, infelizmente, crescente.

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