No dia 10 de fevereiro de 1980, um domingo, o Manifesto do Partido dos Trabalhadores foi aprovado na reunião de fundação da legenda no auditório do Colégio Sion, em São Paulo. A Revista Perseu de número 1 – “Domingo, 10 de fevereiro de 1980 nasce um partido”, preservada no acervo histórico do Centro Sérgio Buarque de Holanda, conta que “estiveram presentes cerca de 400 representantes de núcleos de 17 estados (AM, BA, CE, ES, GO, MA, MG, MS, PB, PE, PI, PR, RJ, RN, RS, SC e SP) e do Distrito Federal, além de uma plateia cujas dimensões variam conforme as fontes, mas que chegou a assinalar a presença no auditório do Colégio Sion de um total que varia entre 700 e 1.200 pessoas”.

O registro histórico do fotógrafo Juca Martins, preservado pelo CSBH, dá uma dimensão do público presente naquele auditório.
O documento aprovado afirma que o PT “surge da necessidade sentida por milhões de trabalhadores brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la”. A proposta era mobilizar os trabalhadores da cidade e do campo não apenas nos períodos eleitorais e organizá-los para “construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores”.

Liderado por dirigentes sindicais combativos, o PT atraiu ativistas das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ex-militantes de organizações revolucionárias, um respeitável núcleo de intelectuais de esquerda e militantes de movimentos sociais. Foi a primeira legenda organizada após a reforma partidária que extinguiu o MDB e a Arena. A criação do PT surpreendeu a ditadura, que não contava com um partido de esquerda nascido de bases populares. Também surpreendeu setores da oposição que defendiam a formação de um partido socialdemocrata ou a permanência da esquerda no PMDB.

Como principal liderança do PT, destacava-se o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Luiz Inácio da Silva, o Lula, que desde 1978 desafiava a ditadura à frente de grandes greves. O fotógrafo Juca Martins registrou o futuro presidente do Brasil no dia da fundação do PT, o registro também está no acervo da Fundação Perseu Abramo. A ficha de filiação número um foi assinada por Apolônio de Carvalho, ex-dirigente comunista que lutou contra o fascismo na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa. Na sequência, assinaram o crítico de arte Mário Pedrosa, registrado pela fotógrafa Nair Benedicto, o crítico literário Antonio Candido e o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, historicamente ligados à luta pelo socialismo no país.

A criação de um Partido dos Trabalhadores vinha sendo discutida desde outubro de 1978, quando Lula lançou a tese no 3° Congresso dos Trabalhadores Metalúrgicos, em Guarujá (SP). Na época, ele argumentava que os trabalhadores precisavam eleger seus próprios representantes no Congresso Nacional. Em 13 de outubro de 1979, foi eleita a Comissão Nacional provisória do Movimento Pró-PT, coordenada por Jacó Bittar, presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas (SP). Dirigentes sindicais como Olívio Dutra, Manuel da Conceição e Luiz Dulci eram maioria na comissão.

Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, que é mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.

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