A indicação da atual gestão da Fundação Nacional do Índio (Funai) de que irá nomear o pastor Ricardo Lopes Dias para coordenar a política voltada aos indígenas isolados pode se tornar mais um grave ataque à população indígena do país. Tal atitude vai na contramão de um princípio estabelecido pela própria Funai, em 1987, que defende o direito dos povos não contatados de viver dentro de seus desejos, o não contato com não indígenas.

Essa possível nova prática inclui mais um retrocesso político na já extensa lista do atual governo, e nos remete ao ano de 1549, quando os jesuítas chegaram ao Brasil para “salvar a alma destes povos”, o que, na prática, resultou em aculturação e destribalização dos índios, facilitando sua consequente escravização pelos colonizadores. Além do mais, este ato fere a Constituição brasileira, que garante aos indígenas o direito de continuar com suas crenças e religiões. Ele também reflete a equivocada visão de Bolsonaro de que o índio tem que ser efetivamente inserido na sociedade não indígena, ignorando seus reais desejos e séculos de história e costumes.

Estima-se que existam cerca de 110 grupos de indígenas não contatados no Brasil distribuídos em seis estados amazônicos. Eles são considerados os mais vulneráveis das comunidades indígenas, pois um único contato com não indígena pode dizimar um povo inteiro e, muitas vezes, possuem apenas armas rudimentares próprias para caça, e não para se defender adequadamente dos que invadem suas terras.

O pastor que o governo deseja nomear pertence à igreja evangélica Missão Novas Tribos, que atua na conversão de indígenas na Amazônia desde a década de 1950. Para além da aculturação, esta mesma igreja já foi condenada pelo crime de abuso e de exploração sexual infantil de indígenas, e acusada de recrutar indígenas para trabalho escravo, e de ter propagado uma epidemia que dizimou um povo Zo’é, no estado do Pará.

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