O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciaram na terça-feira, dia 28 de janeiro, um plano de paz para os conflitos no Oriente Médio que só levou em consideração as reivindicações israelenses, como reconhecer assentamentos na Cisjordânia e no Vale do Jordão. A Palestina, segundo o plano, iria se tornar um Estado sem soberania, por decreto, mas com investimento de 50 bilhões de dólares ao longo de dez anos.

Outro ponto anunciado que é explicitamente a favor de Israel é a proposta de Jerusalém se tornar capital do país e, além disso, a Palestina teria seus territórios desmilitarizados e controlados pelo exército israelense. Enquanto Trump considerou o plano como o “acordo do século”, a autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ausente durante o anúncio, o chamou de “golpe do século”.

O plano serve também a favor de Trump e Netanyahu, que passam por momentos delicados em seus respectivos governos. O primeiro está enfrentando um processo de impeachment por obstrução da justiça e abuso de poder, o qual já foi aprovado pela Câmara dos Deputados, de maioria da oposição Democrata, e está tramitando no Senado, de maioria republicana.

O que era pra ser uma votação tranquila contra o impeachment no Senado ganhou outros contornos após o jornal New York Times conseguir acesso a um trecho do livro que será lançado pelo ex-assessor de Segurança Nacional, John Bolton, no qual ele admite que Trump congelou ajuda militar à Ucrânia para pressionar o presidente Volodymyr Zelenski a investigar o filho do seu possível adversário eleitoral em 2020, Joe Biden.

Em Israel, Netanyahu foi formalmente indiciado por corrupção, abuso de confiança e fraude em três casos, após a tentativa desesperada de conseguir imunidade no Parlamento. No primeiro deles, Netanyahu teria concedido favores à Bezeq, principal empresa de comunicação do país. No segundo há a acusação de, em troca de uma cobertura favorável de seu governo no jornal Yedioth Ahronoth, ter restringido a circulação de um jornal concorrente, o Israel Hayom. O último trata sobre presentes que o primeiro-ministro e sua família receberam entre 2007 e 2016, que podem ter sido dados em trocas de favores.

Foi por causa dessas acusações que Netanyahu dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições em abril de 2019, que terminaram sem a formação de um novo governo pois nenhum partido ou coalizão conseguiu a maioria. Em setembro novas eleições foram realizadas e, novamente, não se formou outro governo. Agora, o país terá eleições em março e o atual primeiro-ministro, apesar de ter sido indiciado, poderá usar o plano de paz anunciado para tentar ganhar votos em uma base eleitoral nacionalista.

De qualquer forma, o plano de paz passa longe de trazer uma solução para o conflito entre Israel e a Palestina e pretende favorecer somente um dos “Dois Estados” e, também, a imagem de dois governos, o de Trump e o de Netanyahu.

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