Povos da floresta se unem para se defenderem de Bolsonaro
O cacique Raoni promoveu durante a última semana um encontro com mais de quinhentas lideranças indígenas de 45 etnias diferentes para ampliar a união dos povos indígenas e reafirmar seus compromissos em comum. O encontro ocorreu na aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto-Jarina, em Mato Grosso, e contou também com a filha do ambientalista Chico Mendes e presidenta do comitê que leva o nome de seu pai, Angela Mendes, com a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) Sônia Guajajara, e com o presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Júlio Barbosa, entre outros.
O encontro e seus objetivos remetem à Aliança dos Povos da Floresta, movimento criado por Chico Mendes que unia extrativistas, indígenas, quilombolas e ribeirinhos para lutar pelo desenvolvimento sustentável na Amazônia. A motivação do encontro vem do temor indígena de genocídio, etnocídio e ecocídio, motivado pelos discursos e ações do governo Bolsonaro, segundo Raoni.
Apesar dos discursos de revide e de guerra de lideranças indígenas mais jovens, Raoni fez questão de pregar a paz e a união entre os indígenas e o não revide físico às violências que os povos autóctones vem sofrendo. O manifesto redigido durante o encontro rechaça o projeto de lei do governo que deseja permitir ampla exploração das Terras Indígenas, independentemente do consentimento deles, e deixa explícita a posição das principais lideranças indígenas do país: “Nós não aceitamos garimpo, mineração e arrendamento em nossas terras, não aceitamos madeireiros, pescadores ilegais, hidrelétricas, somos contra tudo aquilo que destrói nossas florestas e nossos rios. Escrevemos esse documento como um grito, para que nós, povos indígenas, possamos ser escutados pelos três Poderes da República, pela sociedade e pela comunidade internacional”.
Ao longo do encontro, também discutiu-se sobre a deterioração intencional da Fundação Nacional do Índio (Funai) e dos serviços de saúde oferecidos às comunidades indígenas, o não combate efetivo à crescente violência contra elas e a cooptação de alguns outros indígenas pelo governo e pelos setores econômicos interessados em explorar suas terras.
O encontro demonstrou a força da liderança de Raoni, tido por lideranças indígenas jovens e mais velhas como seu principal representante no país, apesar de o presidente Bolsonaro afirmar que Raoni não os representa, inflando outros nomes indígenas sem histórico no movimento. Em entrevista coletiva, Raoni fez uma fala direta ao presidente: “Bolsonaro, veja se faça coisas bonitas, veja se faça as coisas direito. Ajude seu povo. Ajude o povo indígena. Você vem fazendo as coisas querendo destruir. Você mesmo não está respeitando o seu povo. Você não tá respeitando meu povo indígena. Vê se me escuta. Vê se minha voz chega a você, para você respeitar seu povo e o povo indígena”. Representantes do governo federal foram convidados para participar do evento, mas não compareceram.