Depois de citar textualmente trechos de um discurso do ministro da propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, em homenagem à entrega do Prêmio Nacional das Artes, na noite da última quinta-feira (16), o secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi demitido. “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, disse o secretário.

“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse Goebbols dois dias antes da famosa queima de livros em Berlim.

Além da referência ao texto, o discurso de Alvim retomou o de Goebbels quando disse que a arte “não pode ficar alheiaàs imensas transformações intelectuais e políticas que vivemos”. O vídeo também apela para a estética, aparência e vocabulário utilizados pelo secretário, além de usar fundo musical nazista, com música de Richard Wagner.

A mensagem causou polêmica e provocou uma onda de indignação, mesmo entre apoiadores do governo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente do Senado e também judeu, Davi Alcolumbre, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Tofolli, o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, além da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) manifestaram repúdio e indignação à fala do Secretário e pediram sua demissão.

A comunidade judaica do Brasil, representada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) emitiu nota dizendo ser “inaceitável o uso de discurso nazista pelo secretário da Cultura do governo Bolsonaro “. Esclareceu que “Goebbels foi um dos principais líderes do regime nazista, que empregou a propaganda e a cultura para deturpar corações e mentes dos alemães e dos aliados nazistas a ponto de cometerem o Holocausto, o extermínio de seis milhões de judeus na Europa, entre tantas outras vítimas”. Segundo a Conib, o vídeo “é um sinal assustador” da visão de cultura do secretário e “uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente”.

O secretário já havia causado polêmica ao vetar a continuidade da Lei do Audiovisual, reduzindo recursos para o cinema nacional; atacou a atriz Fernanda Montenegro, dizendo sentir desprezo por ela; nomeou o jornalista de direita, defensor de opiniões racistas, Sérgio Nascimento de Camargo, para a presidente da Fundação Palmares. E recentemente ironizou a indicação do filme Democracia em Vertigem para o Oscar na categoria de melhor documentário, dizendo que se tratava de ficção.

Mesmo após a exoneração do secretário, o Observatório Judaico de Direitos Humanos no Brasil afirmou por meio de nota que “A anunciada demissão do secretário, embora acertada, é insuficiente. Conclamamos todas as entidades culturais e dedicadas à defesa da democracia e dos direitos humanos a exigir do Governo Federal a revisão de sua política cultural, em respeito à democracia e à liberdade de criação.”

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