Os incêndios na Austrália tomaram proporções inéditas, atingindo cerca de 58 mil km2, o que corresponde a uma área maior do que o estado de Sergipe e também superior em seis vezes ao que foi queimado na Amazônia brasileira em 2019. Por lá, pelo menos 25 pessoas já faleceram, mais de cem mil foram desalojadas e há a estimativa de quase quinhentos milhões de animais mortos. Com várias cidades em estado de emergência, ainda existem no país 135 incêndios a conter, sendo que setenta ainda estão descontrolados.

Pelas características e localização geográficas da Austrália, o país tende a ter eventos climáticos extremos. E anualmente, em setembro, se inicia o período de incêndios. Mas em 2019 houve uma infeliz combinação de um longo período de ausência de chuvas, tempo muito seco, calor recorde e fortes ventos. Ou seja, estes incêndios, ainda que agravados pelo aquecimento global, devem-se a fenômenos naturais. Diferentemente dos ocorridos na Amazônia, onde a cobiça por madeira, minérios e novas terras para plantio e pastagens, geralmente todos de forma ilegal, prevalecem sobre o bom senso e o respeito ao outro ser humano e meio ambiente.

No entanto, o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, que havia declarado anteriormente que não mudaria a já criticável política ambiental do país e que não investiu em políticas climáticas, vem enfrentando protestos por onde quer que vá. Com discurso similar ao do governo brasileiro, Morrison desvia de tal responsabilidade, declarando que outros países fazem menos pelo meio ambiente do que o seu. O primeiro-ministro é um dos apoiadores da indústria australiana do carvão, uma das mais danosas ao aquecimento global.

E o aumento do aquecimento global é apontado como fator motivador desta até então raríssima combinação climática australiana. O recorde de temperatura mais alta do país foi quebrado duas vezes em 2019, os últimos três invernos apresentaram baixo índice de chuvas. A temperatura média do país cresceu 1,5ºC neste último ano em relação à média histórica.

Desde a revolução industrial, a média de temperatura do planeta já cresceu 1ºC. O principal esforço dos acordos climáticos globais, como o da Conferência pelo Clima, da ONU, é para que a temperatura média mundial não atinja mais 0,5ºC de incremento, o que é esperado que ocorra em uma década caso o volume de emissão de gases poluentes formadores do efeito estufa oriundos das atividades humanas não seja revertido. Estudos de especialistas apontam que, caso isso ocorra, a frequência de grandes tempestades, incêndios florestais, escassez de alimentos, inundações e secas severas deve aumentar, e a vida e a sociedade humana como se conhece provavelmente estarão inviabilizadas. O que está acontecendo na Austrália pode ser um importante aviso para o restante do planeta.

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