6 de dezembro de 2019

As cenas captadas e transmitidas por moradores, sobre o que foi o Massacre em Paraisópolis, ocorrido na madrugada do dia 1º de dezembro, bem como a ação no Morro do Dendê, chocaram o Brasil. São exemplos de um procedimento recorrente de como o governo, em todas suas instâncias, trata a população que mora nas periferias do Brasil.

Sim! É sobre essa população negra e trabalhadora, composta sobretudo por jovens, mulheres, indígenas, população lgbtqi+, que o Estado mantém seus fuzis carregados apontados e descarregados, constantemente. Parem de nos matar!

Essa carta tem dupla função: denunciar a cultura de abuso e aumento da violência do Estado e a banalização das mortes, em oposição à ausência de políticas públicas; assim como propor junto aos coletivos que atuam nesses territórios, a construção de propostas de políticas de segurança pública que considerem as vidas periféricas, e ampliem uma discussão que ultrapasse a visão bélica. Parem de nos matar!

Chacinas como as acontecidas em Paraisópolis e em muitos morros e favelas pelo país são práticas constantes de um Estado que se omite perante os problemas dessas populações. Entendemos que a criminalização e desvalorização das populações negras, indígenas e quilombolas, principalmente em suas camadas mais jovens, são os principais ingredientes que compõem o contexto de repressão e violência estatal, com prisões arbitrárias até a eliminação da vida, com assassinatos em massa que se repetem nos diversos territórios periféricos. Assim foi recentemente em Alter do Chão, Fortaleza, Dourados, entre outros territórios, assim como no Rio de Janeiro se tornou cotidiana a convivência com as tragédias oriundas da violência policial. Criminalização essa que se estende aos movimentos sociais, culturais e políticos atuantes nas periferias. Parem de nos matar!

A polícia é o braço armado do Estado, e sua intervenção é o último e derradeiro ato na linha do tempo da tragédia, que ceifa vidas no auge de sua potência.

Nós, atores culturais, sociais e políticos das periferias do Brasil queremos ter nossa opinião politicamente representada. Levar a opinião dos atores das periferias, aos que nos representam nas instâncias político-partidárias, se faz fundamental. Este é o propósito desta carta. Parem de nos matar!

O projeto anti-crime aprovado pela Câmara dos Deputados essa semana não nos representa, pois não enxerga a juventude como sujeitos de direitos. A simples redução de danos é argumento muito raso. Para nós, assim como historicamente é defendido, redução de danos é uma agenda que se traduz em direitos como educação, trabalho e renda, saúde, moradia, entre outros direitos básicos. O debate não foi esgotado em todas as instâncias e nós, suas principais vítimas, exigimos ser ouvidas.

Quem policia a polícia? Quem governa a polícia? Para nós, população negra, pobre e periférica de todo o Brasil o AI5 nunca deixou de existir.

Parem de nos matar! Queremos direito ao legado da vida!
#vidasnegrasimportam #reconexaoperiferias

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