Fotos de Vinícius Toledo
O lançamento dos dois volumes que completam a Coleção MAG na quinta-feira (12), pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e pelo Instituto MAG, reuniu companheiros de militância, familiares e amigos do intelectual, historiador e dirigente político do Partido dos Trabalhadores Marco Aurélio Garcia, morto em 2017. O segundo volume da coleção, Construir o Amanhã – Reflexões sobre a esquerda (1983-2017), e o terceiro volume, Notas para uma História dos Trabalhadores: Contribuição à História da Esquerda Brasileira e outros escritos, estão disponíveis para serem baixados no site da Fundação.

O presidente da FPA, Marcio Pochmann, deu boas-vindas aos convidados. Participaram da mesa, coordenada pela diretora da Fundação, Rosana Ramos, o professor da Unicamp, que prefaciou o volume 3, Cláudio Batalha; o jornalista, editor do jornal Em Tempo no fim dos anos 1970, Carlos Tibúrcio; o sociólogo e dirigente político Flavio Koutzii; a militante e pesquisadora feminista Vera Soares; o dirigente do PT e diretor executivo do Instituto Futuro Marco Aurélio Garcia, Luiz Dulci; e o psicanalista León Garcia, filho do MAG.

A homenagem rememorou a importância de MAG para o pensamento crítico da esquerda brasileira e resgatou a atualidade de seus escritos para a compreensão do cenário político atual. E também emocionou o público com relatos de suas histórias de vida, de seu senso de humor fino e mordaz, de sua generosidade e seu amor pela Cultura, inesquecíveis para quem com ele conviveu.

Koutzii lembrou que conheceu MAG ainda adolescente, quando ele participou e foi vencedor do antigo programa de tevê “O céu é o limite”, respondendo sobre o personagem teatral Cyrano de Bergerac. “O céu é o limite” tornou-se a marca de Marco Aurélio em sua vida de militante e quando ocupou cargos públicos, com ousadia, esperança no futuro e estímulo constante à capacidade de sonhar. “Alguns textos da coletânea são impressionantes. Apesar de escritos em 2005, 2006 e 2008, trazem uma incrível percepção e prospecção do caminho do Brasil. Por outro lado, o conjunto dos textos, bastante enxutos, é um painel do período histórico que muitos de nós vivemos. Um período de estupidez ciclópica que violenta os interesses e direitos do povo brasileiro e nossa sensibilidade”, disse.

Vera Soares, que foi chefe de Gabinete de Marco Aurélio na Secretaria de Cultura de São Paulo, afirmou que a Coleção está muito bem organizada e espelha a contribuição dele como verdadeiro intelectual de esquerda. Ela citou um trecho de um texto de MAG no qual homenageia a companheira Beth logo após o falecimento dela, em 1994, no qual situava o PT e apontava todas as dificuldades que as feministas teriam para defender suas posições. “Interessante perceber como a análise remete aos dias de hoje”, afirmou.

Tibúrcio, que conheceu Marco Aurélio durante a reorganização da UNE, em 1969, destacou o grande peso que ele teve em sua vida e sua formação. “No Em Tempo eu participava junto com ele do grupo Autonomista. Eu diria que o valor da teoria, da visão estratégica, do internacionalismo e da solidariedade, o respeito à autonomia das organizações dos movimentos sociais são questões em que MAG teve um peso enorme para minha formação e de muita gente”.

Uma parceria que deu frutos. No governo Lula, Tibúrcio relembrou dois momentos importantes em que atuaram juntos. “Marco Aurélio foi quem articulou com o Itamaraty para que dentro do contexto do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) fosse produzido o primeiro documento de política pública sobre políticas sociais dos três países. Outro momento, pouco conhecido, foi quando ele ajudou a desenvolver um projeto de comunicação Sul-Sul, e assim conseguimos reunir 24 países do Sul na ONU”.

Claudio Batalha mencionou a extraordinária erudição de Marco Aurélio e sua capacidade de transitar pelos mais diversos campos do saber. “Ele era extremamente generoso com os intelectuais, estudantes, colegas, e ao mesmo tempo, exigente consigo mesmo. Apesar de sua grande produção escrita e dos incentivos de muitos colegas, nunca escreveu um livro definitivo, o que, de certa forma, era o que ele esperava fazer. Nesse sentido, a publicação é uma enorme homenagem, é uma maneira de uma geração que não o conheceu e tem pouco acesso aos textos publicados de forma diversificada ter acesso ao pensamento de Marco Aurélio”.

Dulci ressaltou que MAG, ao falar das experiências e conquistas da esquerda, nunca fazia só propaganda. Ele pensava e analisava a experiência. Não escrevia para seus pares, e sim para um público mais amplo, sempre fazendo uma reflexão. Isso está presente na Coleção. “Marco está muito vivo nestes livros, com análises sobre fenômenos antigos mas também pautando questões sobre a integração da América do Sul e da América Latina que são atualíssimas. No campo da esquerda, foi ele que pensou a importância da união da América do Sul”, afirmou.

Por fim, León Garcia lembrou que o pai se referia com satisfação aos textos publicados e certamente gostaria de tê-los transformado em livro e elogiou a Fundação Perseu Abramo pela iniciativa de editar os livros. Dirigindo-se ao filho, Benjamin, que estava presente no evento, falou: “Para nós, materialistas, é nesses livros que as pessoas continuam vivas. Não necessariamente nas letras embaralhadas de cada volume, no papel, mas sobretudo pelo que for feito disso. Nos debates que forem realizados sobre esses textos, para discutir se estão atuais ou não. Alguém só morre de verdade quando a última pessoa lembra de alguma coisa que esse alguém disse. Enquanto continuarmos a falar sobre as ideias do Marco Aurélio ele estará vivo”.

 

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