Viver em cidade poluída aumenta chance de infarto
Estudo conduzido na Inglaterra relaciona poluição do ar a graves impactos na saúde humana, como maior risco a infartos, internações de emergência, entre outros. O estudo “Personalising the Health Impacts of Air Pollution: Interim Statistics Summary for a Selection of Statements”, escrito por Dimitris Evangelopoulos, Klea Katsouyanni, Heather Walton e Martin Williams do King’s College de Londres (disponível aqui) busca discutir os efeitos da poluição na saúde humana, usando como campo cidades da Inglaterra (Birmingham, Bristol, Derby, Liverpool, Londres, Manchester, Nottingham, Oxford e Southampton) e, mais do que isso, apresentá-los de forma clara para o público leigo.
Por exemplo, o estudo mostra que o número de paradas cardíacas de pessoas fora de um hospital, por exemplo, na cidade de Birmingham, é 2,3% mais alto em dias de alta poluição do que em dias de baixa poluição. Quanto a infartos, eles também têm mais ocorrência em dias de grande poluição e morar perto de uma rua movimentada aumenta as chances de ter um infarto: esta situação aumenta o risco de ser hospitalizado por infarto se morando em Londres em 6,6%. No caso de asma, em dias de alta poluição por NO2 é 4,4% mais provável que crianças que vivam em Bristol sejam hospitalizadas do que em dias de baixa poluição. Dito de outro modo, cinco crianças a mais são hospitalizadas por asma em Bristol em dias de alta poluição por NO2 comparados a dias com menores concentrações do gás. Já entre adultos, estes têm uma chance 2,1% maior de serem internados por asma em dias de alta concentração de NO2.
O estudo também correlaciona a poluição a efeitos no desenvolvimento infantil. Por exemplo, a poluição do ar por veículos atrapalha o crescimento do pulmão das crianças em 2,8% em Nottingham. Segundo o estudo, cortar a poluição do ar em Nottingham em 20% levaria a que 175 crianças deixassem de ter, em um caso hipotético, má função no pulmão.
Ainda sobre câncer, o estudo mostra que reduzir a poluição do ar em Manchester em 20% reduziria os casos de câncer de pulmão em 5,6%. Ou seja, essa redução ocasionaria que vinte pessoas a menos por ano na cidade tivessem câncer de pulmão.
O estudo tem diversas outras relações interessantes sobre a poluição do ar e impactos na saúde humana, alguns pouco esperados pelo senso comum, como é a questão dos infartos. Desta forma, pode-se discutir se os custos de transição para uma economia mais limpa não se reduzem se a sociedade passa também a “economizar” os custos de tratamento de doenças relacionadas a essa mesma poluição. Se feito aqui no Brasil, certamente veríamos os grandes impactos da baixa cobertura de saneamento no país (em especial na região Norte) no desenvolvimento da população no longo prazo e que essa “economia” em não prover serviços básicos e onerar o SUS com as consequências deste não suprimento é um contrassenso.