Chegou ao fim no domingo, 27 de outubro, o tão polemizado Sínodo para a Amazônia, evento da igreja católica, que ocorreu no Vaticano, e onde se debateram medidas de proteção para a Floresta Amazônica e seus povos, bem como a atuação da igreja na região. Participaram do evento, realizado de 6 a 27 de outubro, cerca de 80 mil pessoas, entre eles padres e bispos católicos, lideranças locais dos países amazônicos, indígenas, ativistas, políticos e o próprio Papa. O evento foi previamente muito criticado pelo atual governo brasileiro, em temor às repercussões internacionais do mesmo e o enxergando como uma violação da soberania nacional.

Na missa de encerramento do evento, a indígena brasileira Marcivana Sateré, do povo Sateré-mawé, subiu ao altar para entregar um vaso com milho e feijão plantados ao Papa. Na sequência, em seu sermão, Francisco reconheceu os erros do passado da igreja em relação aos indígenas e ao processo de colonização do Brasil, mas fez o link destes fatos com o que está sendo feito atualmente pelo governo Bolsonaro, indicando que os indígenas não podem ser novamente “considerados como atrasados e de pouco valor, que suas tradições não devem ser desprezadas e suas histórias canceladas, com a ocupação e usurpação de seus territórios e bens”.

Na mesma missa, Francisco ainda criticou a superioridade presumida que, segundo ele, se transforma ainda hoje em opressão e exploração. Sobre o evento o Papa declarou que “neste sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade de suas vidas, ameaçadas por modelos de progressos predatórios.”

No documento síntese do evento constam algumas das resoluções tomadas. Dentre elas, as propostas de ordenação de homens casados para atuar na Amazônia, o respeito à religiosidade não cristã indígena, a criação do “pecado ecológico” e o estabelecimento de um “observatório pastoral socioambiental”. Nele também constam críticas ao atual modelo de “desenvolvimento” da região, que conta com o extrativismo ilegal, o desmatamento irresponsável e a adoção de projetos econômicos danosos ao meio ambiente. As propostas do Sínodo agora serão analisadas até dezembro pelo Papa, quando deverá determinar sua implantação.

Na segunda-feira, um dia após o término do Sínodo, houve no Vaticano uma reunião que contou com governadores de trinta estados de oito países da Amazônia. O objetivo principal do evento foi, após examinar as mensagens do Papa Francisco durante o Sínodo e os resultados da cúpula, definir propostas para garantir a execução na região das resoluções tiradas durante o evento católico. No encontro, os governadores também tiveram a oportunidade de apresentar compromissos para o desenvolvimento sustentável da região.

Durante o evento, o governador do Maranhão, Flávio Dino, declarou que “o bem viver e o desenvolvimento sustentável dependem de uma série de atitudes e premissas. Em primeiro lugar, o reconhecimento de que há simultaneamente uma crise ambiental e uma crise social. Em segundo lugar, que o cumprimento de compromissos internacionais não representam um quebra de soberania. E, finalmente, a necessidade dos países mais ricos assumirem responsabilidades diferenciadas…, que eles assumam encargos proporcionais aos danos que já provocaram”.

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