Em uma época em que o individualismo prolifera, torna-se cada vez mais importante restabelecer contatos com experiências de exercício coletivo. É isso o que a exposição coletiva Somos muit+s: experimentos sobre coletividade traz para a Pinacoteca de São Paulo. A curadoria já parte de um coletivo formado por Amanda Arantes, Fernanda Pitta e Jochen Volz. A mostra traz obras de artistas nacionais como Hélio Oiticica, Maurício Ianês, Tânia Bruguera, Vivian Caccuri, Mônica Nador e os coletivos Jamac e Legítima Defesa, além de obras de artistas internacionais consagrados como Joseph Beuys e Rirkrit Tiravanija.

O que eles têm em comum é a compreensão da arte como prática coletiva, por meio do diálogo com o público e sua inclusão como parte da obra. Por essa perspectiva, a mostra propõe a experiência artística como uma forma alternativa de sociabilidade, com a dissolução da autoria individual e da figura do artista como singular; a retirada da obra de arte dos espaços convencionais como museus e galerias; e a expansão radical do conceito de arte trazendo o público para o centro da obra.

A obra de Rirkrit Tiravanija abre e fecha a exposição em um palco vazio, de estrutura espiral, onde o público é convidado a compor a obra, se expressando através da dança, teatro, música ou declamações de poesia, inclusive com a possibilidade de agendar apresentações nesse espaço. Da mesma forma, a obra de Oiticica só se realiza com a participação do público, que movimenta o cenário que inspira sua obra “Mesa de bilhar”.

O artista Maurício Ianês, que permanece presente durante toda a exposição interagindo com o público, rompe com o conceito do artista como dotado de dom e talento excepcionais e o traz para o espaço comum, oferecendo a oportunidade de interagir e inserir suas formas de expressão em painéis que fazem da obra um organismo vivo composto a partir de cada inserção.

Boyes traz a noção de escultura social, incluindo aí toda a atividade humana. Para ele, a transformação da sociedade física, econômica ou politicamente através do uso de linguagens, pensamentos e ações é a verdadeira função da obra de arte. Traz em destaque “Bomba de mel no local de trabalho”, apresentando o mel como símbolo do produto do trabalho coletivo, que relaciona a colmeia à sociedade.

O trabalho de Monica Nader traz um projeto desenvolvido, desde 2004, com coletivos nas periferias de São Paulo e grupos afastados dos espaços artísticos e culturais institucionais. Desperta o potencial de criatividade latente nas coletividades e mostra a vontade inventiva da arte, frequentemente invisível nas estruturas hegemônicas. Já Vivian Caccuri retira elementos do acervo da Pinacoteca ligados à música, à espiritualidade e, sobretudo, aos aspectos ritualísticos e coletivos da arte e os traz para a exposição, de modo interativo.

A exposição faz refletir sobre o espaço e os significados da arte. Coloca em todos a potencialidade de sua elaboração e no coletivo a centralidade de sua intenção. Desconstrói o papel figurativo da arte e a traz para o centro da vida, remetendo a diversos aspectos do atual momento da realidade brasileira.

Serviço

Somos muit+s: experimentos sobre coletividade
Local: Pinacoteca de São Paulo (Edifício Pina Luz – Praça da Luz 2, São Paulo
Período: 10 de agosto a 28 de outubro de 2019
Horários: de quarta a segunda das 10h às 17h30
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia-entrada para estudantes com carteirinha), sábados livre.

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