A edição de outubro da revista Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, coloca no centro do debate o tema fé e política nas periferias. A relação entre esses dois componentes essenciais para a maioria das pessoas vem suscitando polêmica ao longo dos séculos e já determinou as relações de poder na sociedade em vários momentos da história humana, portanto trata-se de um assunto necessário.

A revista aborda em um dos artigos a formação da população evangélica brasileira, à luz do processo eleitoral de 2018, no qual em meio a fake news, desrespeito aos direitos humanos e futilização do debate político brasileiro, aconteceu a construção midiática de uma hegemonia reacionária fundamentalista evangélica – que apoia tudo o que há de mais abjeto em matéria de política: retirada
de direitos, desmonte dos programas sociais e proteção do mercado financeiro. O texto traz dados do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, segundo o qual a população brasileira contava com aproximadamente 190,7 milhões de brasileiros e, destes, 123,3 milhões se declararam católicos (65% da população) e 42,3 milhões se declararam evangélicos
(22% da população).

Já o texto “A força do colonialismo e das crenças hegemônicas em nome do poder” aborda o racismo religioso e traz dados assustadores sobre a perseguição a religiões afro-brasileiras: Dos 840 terreiros pesquisados, 430 (cerca de 51%) já passaram por alguma forma de agressão (seja verbal, física ou ataque ao espaço religioso). Dos agressores relatados na pesquisa, 39% são evangélicos, revelando-se os principais protagonistas da chamada intolerância religiosa.

O artigo “Fé, política e Islã nas periferias” explica por que ser muçulmano na periferia no contexto atual, em que cada vez mais ideologias religiosas se aliam a políticas autoritárias é, antes de tudo, um ato de resistência política.

A Reconexão Periferias do mês traz ainda entrevistas com o pastor Ariovaldo Ramos, cuja biografia é feita de fé e militância política, e o ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência no governo Dilma, Gilberto Carvalho, que fala sobre o papel de Eduardo Cunha na construção do golpe que derrubou a presidenta, ao fomentar campanha contra o PT entre a comunidade evangélica.

 

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