Grandes mobilizações e protestos se iniciaram nos primeiros dias do mês de outubro no Equador. O motivo foi a extinção do subsídio concedido aos combustíveis nos abastecimentos locais por cerca de quarenta anos. Este tipo de subsídio é muito comum em países produtores de petróleo, como a Venezuela e outros. Com esta medida, a gasolina e o óleo diesel tiveram um aumento repentino de até 123%. Além do que isso significa para o custo do transporte público e individual, o reajuste afetará outros preços em cascata pelos vínculos aos preços do transporte como produtos agrícolas e alimentos, bem como outros de consumo pessoal.

A justificativa para a eliminação deste subsídio foi um acordo assinado com o FMI, em fevereiro, quando o Equador recebeu um aporte de 4,2 bilhões de dólares e assumiu vários outros compromissos, como a redução de tarifas externas e dos salários de funcionários públicos temporários. No entanto, alguns analistas econômicos estranharam esta negociação com o FMI, pois embora a economia equatoriana não apresentasse um desempenho extraordinário, tampouco mostra sinais de desestabilização como déficit, endividamento e inflação fora de controle. Há quem avalie que devido às alianças internas à direita do presidente Lenin Moreno, desde que foi eleito e rompeu com seu antecessor, Rafael Correa, ele pretendia implementar medidas econômicas neoliberais para favorecer as empresas que dependem de insumos importados e o setor financeiro que requer austeridade fiscal. Desta forma, recorrer ao FMI e cumprir suas orientações, fundamentariam as razões para o ajuste da economia frente à opinião pública.

Porém, a reação popular foi forte e imediata a ponto de o presidente transferir o governo de Quito, a capital localizada na serra, para Guayaquil, a segunda maior cidade do país e localizada no litoral. O objetivo era evitar sua presença quando da chegada de milhares de indígenas à capital e buscar guarida em Guayaquil, um reduto importante da direita equatoriana. O candidato da direita derrotado por Lenin Moreno em 2017, Jaime Nabot, foi, inclusive, prefeito desta cidade e ele agora está do lado de seu antigo oponente em defesa das medidas aplicadas pelo governo.

Este decretou “Estado de Exceção” e “toque de recolher”. Mais de setecentas pessoas já foram presas e há confirmação de cinco mortes até o momento. Esta semana iniciou-se uma greve geral e várias organizações indígenas implementaram marchas até a capital, chegando a acontecer a ocupação da Assembleia Legislativa por algumas horas.

Além da repressão, o governo tem afirmado que a mobilização é uma tentativa de golpe do ex-presidente Rafael Correa com apoio da Venezuela, o que obviamente não confere, pois Correa está exilado na Bélgica devido às perseguições judiciais contra ele, no Equador. Além disso, nem os sindicatos que estão mobilizados, nem as organizações indígenas como a Conaie e Ecuarunari e tampouco os ambientalistas têm maior apreço por Correa, pois embora ele tivesse promovido um governo progressista com muitas conquistas sociais entre 2007 e 2017, sua relação com as organizações sociais do país não eram boas e ele as classificava como meros grupos de interesses corporativos que não pensavam no conjunto da sociedade. E assim as tratava sem desenvolver maior diálogo.

No momento há um impasse, pois a mobilização social é grande, mas não é total e por outro lado, apesar do apoio dos militares ao governo, este tampouco tem o controle da situação, vendo-se obrigado, inclusive, a interromper a extração de petróleo em três áreas importantes. Muitos também se recordam que antes da eleição de Rafael Correa, o povo derrubou três presidentes.

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