Livro mostra que Brasil lidera genocídio indígena na América Latina
Em um momento em que a população indígena brasileira é alvo crescente de diversas violências que põem em risco sua sobrevivência, cultura e habitat, o ato de valorizar e divulgar sua história também é um meio de combater essas situações desumanas às quais os povos originários do Brasil estão sujeitos. Neste aspecto, a publicação O Mundo Indígena na América Latina – Olhares e Perspectivas enriquece o olhar dos leitores sobre o tema ao se debruçar sobre a história da população indígena latino-americana.
Umas das revelações de maior pesar da publicação é o fato de o Brasil ser o país latino-americano que mais exterminou sua população originária. Estima-se que dos quatro milhões de indígenas presentes no país quando os portugueses aqui chegaram, quase 3,5 milhões foram dizimados.
A partir da década de 1980, felizmente, sua população voltou a crescer, chegando a aproximadamente um milhão de pessoas no tempos atuais, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai). São 250 etnias que vivem em 13,8% do território nacional.
Cerca de metade desta população vive em terras indígenas e está cada vez mais acossada por pressão de latifundiários, mineradoras e garimpeiros, madeireiros e, atualmente, também pelo próprio governo brasileiro, que é quem, pela constituição federal de 1998, os deveria proteger. Muitos dos indígenas das cidades não conseguem sair da exclusão socioeconômica e nem sequer fazem parte dos sistemas de cotas da maioria das universidades brasileiras, por exemplo.
O livro mostra que a grande maioria dos países da América Latina soube incluir melhor os indígenas em sua população do que o Brasil. Atualmente, por exemplo, eles são mais da metade da população boliviana e estão presentes intensamente no México, Colômbia, Venezuela, Equador e Paraguai. As raízes indígenas na história brasileira foram praticamente esquecidas, pois estes não são valorizados culturalmente e não se fazem presentes na rotina do país como ocorre em outros, como no México, onde existem diversos monumentos e museus ligados à cultura indígena.
Ambas as colonizações, da América espanhola e da portuguesa, foram extremamente violentas contra os povos nativos. Mas a brasileira teve características diferentes, deixando os indígenas daqui mais vulneráveis. Um dos fatores apontados no livro foram as distintas formas de independência dos colonizadores, pois, enquanto na América espanhola ouve lutas pela libertação com caráter mais popular, com revolucionários como José de San Martín e Simón Bolívar difundindo uma mensagem de justiça social e igualdade de direitos, no Brasil ela se deu de forma mais elitista, por meio de autoridades que estavam no poder, como Dom Pedro I.
Outro fator apontado na publicação foi a própria dimensão continental do Brasil, com abundância de terras férteis e, consequentemente, com indígenas de características em geral mais pacíficas, que iam migrando mais para o interior do território quando eram atacados. Do lado de cá dos Andes, generalizando-se, os indígenas não possuíam fortes características guerreiras. Não possuíam, por exemplo, fortificações como os Incas, Maias e Astecas.
Essas e muitas outras informações pertinentes podem ser acessadas na publicação, cujo download completo gratuito pode ser feito por meio deste link no site da Editora da USP. O livro foi coordenado pela mexicana Beatriz Paredes, que é socióloga, política e diplomata e já foi governadora do estado mexicano de Tlaxcala e embaixadora do México no Brasil. Os organizadores foram os professores da Universidade de São Paulo Gerson Damiani, Wagner P. Pereira e Maria A. G. Nocetti.