O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais como o operador do esquema que envolvia a candidaturas laranjas de quatro candidatas usadas para cumprir a cota eleitoral de gênero obrigatória e recolher recursos do fundo eleitoral para seu partido (PSL), em Minas Gerais.

As quatro candidaturas receberam juntas 279 mil reais de verbas públicas, em 2018, para pagamento de material gráfico das campanhas. Os resultados eleitorais, no entanto, foram pífios, com pouco mais de dois mil votos. Na prática o dinheiro das candidaturas era administrado pelo então presidente estadual do partido, Marcelo Álvaro Antonio, responsável pelo desvio do dinheiro para caixa dois na campanha presidencial de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro nega qualquer envolvimento com as candidaturas laranjas e acusa a imprensa de querer derrubá-lo, acusando as reportagens da Folha de São Paulo de “patifaria” e “covardia”. Alega que sequer fez campanha pois ficou acamado durante o período.

Na última sexta-feira, Bolsonaro se reuniu com o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo e em sua agenda consta novo encontro entre eles, essa semana, onde será acompanhado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, que tem atuado em defesa de Bolsonaro e insinuado que teve acesso ao conteúdo de informações sigilosas das investigações, o que é ilegal.

Na manhã da terça-feira, dia 8 de outubro, Bolsonaro disse a um apoiador para esquecer o PSL, partido ao qual é filiado, porque o presidente da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PE), está “queimado para caramba”. A tentativa de Bolsonaro é de se distanciar das denúncias e já crescem os rumores de que poderá deixar o partido.

Bolsonaro não nem tem qualquer compromisso com legenda partidária. Já foi filiado a sete partidos políticos. Começou sua trajetória no PDC (Partido Democrata Cristão), partido pelo qual foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro, onde ficou de 1988 a 1993. Em 1993 trocou o PDC pelo PPR (Partido Progressista Reformador), de onde saiu em 1995 para integrar o PPB (Partido Progressista Brasileiro) até 2003. De 2003 a 2005 esteve filiado ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) de onde saiu para uma curta passagem pelo então PFL (Partido da Frente Liberal), em 2005. Nesse mesmo ano passou para o PP (Partido Progressista), onde ficou mais tempo, até 2016. Entre 2016 e 2017 esteve vinculado ao PSC (Partido Social Cristão), onde tentou emplacar sua candidatura à presidência da República. Ao encontrar resistências internas, negociou com o Patriota e com o PR (Partido Republicano) para garantir sua candidatura e se filiou ao PSL (Partido Social Liberal) em 2018 para disputar a Presidência.

O partido, dirigido por Luciano Bivar, entregou sua estrutura a Bolsonaro e seus apoiadores, e agora é investigado por uso de candidaturas laranjas nas eleições. Tanto o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, presidente estadual do PSL em Minas, quanto o deputado por Pernambuco, Luciano Bivar, presidente nacional do partido, são investigados em esquemas de caixa dois.

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio, disse estar perplexo com as declarações de Bolsonaro, afirmou que o partido tem sido fiel ao governo no Congresso, que os seus pedidos são atendidos como uma determinação pela direção do partido e que “ele é nosso líder maior” e que “o PSL cresceu em torno do nome dele” e que não dá para entender a sua declaração.

A saída de Bolsonaro do PSL já é dada como certa pela cúpula do partido. Na opinião de Bivar, pela fala do presidente, ele já está afastado do partido e está descartando o PSL para disputar as eleições de 2022. Diz que não pretende punir Bolsonaro e que o partido vai continuar apoiando as matérias importante para o país, mesmo que ele decida deixar a sigla. Bivar também negou a preocupação com possível debandada de deputados do partido, reduzindo o fundo partidário da legenda, enquanto outros dirigentes do partido apostam na saída de quinze dos 53 deputados federais além de três senadores.

Até o momento, Bolsonaro não anunciou sua desfiliação, mas já avalia outros cenários políticos para a disputa eleitoral de 2022. A União Democrática Nacional (UDN) já pediu registro como partido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e quer que o presidente se filie à sigla.

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