Recém-formados na educação superior enfrentam quadro difícil
Para além das dificuldades que os trabalhadores em geral têm encontrado para se inserir no mercado de trabalho, a vida não está fácil também para aqueles com curso superior. É o que discute o boletim Emprego em Pauta, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Antes de apresentar os resultados do boletim, é importante ponderar que o Brasil, em comparação com países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tem altíssimo retorno da educação superior no salário. Em outras palavras, aqueles que garantem uma formação superior no Brasil atingem também um patamar muito mais elevado economicamente, destacando-se em um país de elevadíssima desigualdade social.
Dito isso, até mesmo os que estão em melhores condições que os demais dos trabalhadores têm enfrentado grandes dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. De acordo com a pesquisa, de 2014 a 2018 cresceu de 8,2% para 13,8% o número de recém-formados desocupados, bem como de 13,3% para 14,7% o número de inativos, enquanto caiu de 78,5% para 71,5% o número de recém-formados ocupados.
Além disso, entre os que conseguiram trabalho, diminuiu a proporção dos que estavam em postos que demandavam ensino superior, como mostra o gráfico abaixo, retirado da publicação: em 2014, 51% dos jovens entre 25 a 29 anos recém-formados que estavam trabalhando ocupavam postos de trabalho que exigiam formação superior, enquanto em 2018, o percentual na mesma posição era de 35%. Para aqueles que tinham entre 30 e 44 anos, o percentual nessas vagas passou de 51% para 18%, entre 2014 e 2018. Para os mais jovens, entre 18 e 24 anos, este percentual subiu levemente, de 35,7% para 36,8%.
Segundo o Dieese, os recém-formados provenientes dos domicílios mais pobres enfrentam maiores dificuldades para conseguir trabalho e mais ainda um trabalho na área em que se formaram no ensino superior: em 2018, estava sem trabalho quase metade (45%) dos recém-formados cujos domicílios tinham rendimentos per capita de até meio salário mínimo. Essa proporção era o dobro da verificada nos domicílios com rendimento per capita de mais de dois salários mínimos (22%). Também entre os formados dos domicílios mais pobres apenas 19% tinham conseguido um posto de trabalho no qual era necessária a formação superior. Já nos domicílios mais ricos, 36% dos recém-formados estavam em ocupações que demandavam ensino superior.