O nosso país vizinho, o Peru, tem vivido sob distúrbios políticos complexos desde o início dos anos 1990, quando Alberto Fujimori foi eleito presidente e posteriormente destituído e preso. Desde sua destituição, em 2000, houve um presidente interino, três que cumpriram regularmente seus mandatos e um último que foi eleito em 2016, Pedro Paulo Kuczynski (PPK), que renunciou no início de 2018. Estes quatro foram acusados de terem recebido propinas da Odebrecht. Dois estão presos, Ollanta Humala e PPK, Alejandro Toledo está foragido nos Estados Unidos e pode ser extraditado e Alan Garcia suicidou-se quando estava para ser detido pela polícia. Além deles, há outros políticos presos desde o ano passado devido às mesmas acusações, como a filha de Fujimori, Keiko, que perdeu a eleição para PPK por estreita margem de votos.

O atual presidente interino, Martin Vizcarra, que busca popularidade como um combatente da corrupção, promoveu um embate recente com o parlamento peruano onde os partidários de Keiko Fujimori, do partido “Força Popular”, são maioria e o dissolveu, convocando novas eleições legislativas para o final de janeiro de 2020. A Constituição peruana, que é semi-parlamentarista, lhe outorga este direito se o Congresso aprovar dois votos de desconfiança, isso é, se por duas vezes rejeitar medidas presidenciais.

A controvérsia neste momento é em torno de propostas que limitariam o financiamento privado de campanhas eleitorais e, principalmente, a nomeação dos sete juízes do Tribunal Constitucional, a suprema corte do país, onde, segundo Vizcarra, as indicações dos deputados são de pessoas sem a devida idoneidade. À rigor, estas nomeações cabem ao parlamento peruano, mas quando o Congresso aprovou a nomeação do irmão do presidente da casa em vez de um indicado pelo presidente da República, este o considerou como o segundo voto de desconfiança, pois já houve outro incidente semelhante em 2017, no governo PPK, e promulgou a dissolução da Câmara de Deputados. A maioria de seus membros não aceitou a medida sob o argumento de que a recusa da indicação presidencial seria somente o primeiro voto de desconfiança no atual governo e respondeu com a decisão de suspender o mandato do presidente e dar posse à sua vice, Mercedes Aráoz, como a nova interina. No entanto, ela não foi reconhecida por ninguém com exceção dos deputados fujimoristas, e renunciou menos de 24 horas depois.

Por enquanto, o vitorioso no embate é o presidente Martin Vizcarra, um neoliberal como seu antecessor, pois além da baixa popularidade dos membros do Congresso, as forças armadas declararam obediência às suas medidas e a polícia tem impedido o acesso dos deputados ou ex-deputados ao parlamento.

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