Um documentário interessante, Indústria Americana, estreou no Netflix no último mês de agosto. No coração da degradada região do “rust belt” (cinturão da ferrugem), antigo centro manufatureiro dos EUA, uma fábrica desativada da Ford é comprada por um poderoso empresário chinês para instalar uma unidade da Fuyao, a maior produtora de vidros automotivos do mundo.

Com a promessa de reanimar a vida na decadente cidade de Dayton (Ohio), cuja população encolheu 15% entre 2000 e 2015, a empresa chinesa inicia sua produção trazendo parte de seu quadro de trabalhadores da China e incorporando ex-operários da Ford.

No chão da fábrica, o choque de culturas entre as duas civilizações imperiais rapidamente se reproduz. Por um lado, os trabalhadores chineses, em avançado grau de confucionismo capitalista, vivem para o trabalho e parecem incapazes de separar seus próprios interesses dos da empresa. Cumprem a jornada que for necessária, se subordinam a condições de trabalho que colocam em risco sua saúde, mas têm a certeza de que como parte integrante de um todo chamado Fuyao estão fazendo o certo, e isso parece lhes bastar.

Créditos: IMDB

De outro lado, entre os trabalhadores nativos, norte-americanos, o mal-estar é patente e cresce na medida em que percebem o alto grau de exploração a que são submetidos, ao mesmo tempo em que depositam suas esperanças nos empregos ofertados pelo todo poderoso dono da empresa.

Das tensões que vão se desdobrando do chão da fábrica, questões relevantes vão sendo exploradas pelos documentaristas. A começar pelo absoluto repúdio do empresário chinês ao mais tênue sinal de representação sindical dentro da fábrica. Interessantes também são as impressões que os empregados de cada cultura têm da outra. Não são necessariamente rivais nem inimigos, mas parecem ter absoluta clareza das distâncias que separam seus modos e seus mundos, deixando ao espectador brasileiro a difícil tarefa de especular a respeito de qual padrão produtivo é menos ruim.

Ficha técnica:
Título original: “American Factory”
Ano: 2019
País: EUA
Produção: Julia Reichert, Steven Bognar, Jeff Reichert, Julie Parker Benello
Diretores: Steven Bognar e Julia Reichert

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