Desmatamento: do discurso de Bolsonaro à triste realidade
Em seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, o presidente Jair Bolsonaro negou que esteja acontecendo algo errado na Amazônia, apresentou uma visão ultraliberal, antiindígena e banalizou as queimadas ocorridas no país. Em meio ao seu discurso ideológico, que separa o Brasil das demais nações, Bolsonaro só se esqueceu de mostrar os dados da realidade.
O que realmente vem acontecendo na Amazônia brasileira é uma elevação dos focos de incêndio a partir de agosto de 2019. Com incêndios criminosos que iniciaram no denominado “dia do fogo”, as queimadas foram encaradas com preocupação ao redor do mundo, noticiadas pela imprensa e despertaram uma crise na recente gestão do governo Bolsonaro.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve 30,9 mil focos de incêndio na Amazônia em agosto de 2019. Os focos de incêndios ocorridos no atual governo foram o triplo dos registrados em agosto do ano anterior, o equivalente a 10,4 mil focos. Além disso, as queimadas ocorridas em agosto de 2019 superaram em 20% a média histórica do período 1998-2019, que foi de 26 mil focos.
Diretamente relacionado aos incêndios, o desmatamento na Amazônia também cresceu em agosto de 2019 em relação ao mesmo mês de 2018. O substancial aumento de 222% revela que neste mês foram desmatados 1.701 quilômetros quadrados, área maior do que a do município de São Paulo.
No período recente, muitas polêmicas envolveram a péssima gestão do governo a respeito do meio ambiente. Entre elas, se destacam a declaração do presidente que atribuiu a responsabilidade das queimadas às ONGs ambientalistas sem apresentar nenhuma evidência a respeito, além da pretensão do governo de trocar um serviço público exitoso prestado pelo Inpe para mensurar o desmatamento por um serviço privado sem comprovação de qualidade.
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), as queimadas estão sendo usadas para limpar a terra de áreas recém-desmatadas, majoritariamente para que sejam utilizadas para atividades econômicas como cultivo agrícola ou pastagem. As constatações do Ipam também indicam elevada associação entre municípios desmatadores e elevadas ocorrências de queimadas, entre eles Altamira, Porto Velho, Lábrea e São Felix do Xingu.
Em vez de acusar os ambientalistas pelos incêndios, Bolsonaro deveria repensar a desastrosa trajetória da política ambiental ocorrida em sua gestão. Ao abrir mão dos recursos provenientes da Alemanha e da Noruega para o Fundo Amazônia, Bolsonaro enfraqueceu todo o sistema de proteção das florestas brasileiras. Entre outros objetivos, o Fundo Amazônia financiava projetos governamentais para iniciativas de prevenção e combate a incêndios na Amazônia, bem como financiava ações do Inpe e do Instituto Brasileirodo Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Dessa maneira, além dos grandes proprietários de terra da soja e do gado, a culpa pelo aumento das queimadas também pode ser creditada ao cruzar de braços do governo, que reduziu drasticamente o orçamento dos serviços prestados pelo Ibama e pelo ICMBio, no qual incluem o corte de recursos para estruturação do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo).
O avanço do ritmo desmatamento no governo Bolsonaro veio acompanhado por conflitos sociais pelo uso da terra e resultou no aumento da violência no campo. O desmatamento vem causando boicotes comerciais de países importadores que defendem campanhas ambientais, bem como influenciado negociações de acordos comerciais entre o Mercosul e a União Europeia.