Bolsonaro ataca comissária de Direitos Humanos da ONU
Jair Bolsonaro deu mais uma de suas declarações estapafúrdias na manhã do dia 4 de setembro. Desta vez contra Michelle Bachelet, ex-presidenta do Chile e atual comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), após entrevista coletiva concedida, em Genebra.
Bachelet disse que o Brasil vem perdendo espaço democrático, após as provocações de Bolsonaro às Ongs ambientalistas frente as evidências do aumento do desmatamento da Amazônia e ataques a defensores dos direitos humanos, que levou à morte de oito lideranças, a maioria relacionada à exploração ilegal de recursos naturais. Criticou também o discurso que legitima a execução sumária, frente ao expressivo aumento do número de mortes cometidas pela polícia, principalmente de negros e moradores das favelas do Rio de Janeiro e São Paulo.
Segundo Bachelet, “temos visto um aumento marcado na violência policial em 2019 em meio a um discurso público que legitima execuções sumárias e a uma ausência de responsabilização. Também estamos preocupados com algumas medidas recentes como a desregulamentação das regras de armas de fogo, e propostas de reformas para reforçar o encarceramento e levando à superlotação de prisões, aumentando ainda mais as preocupações de segurança pública”.
Bolsonaro revidou, dizendo que assim como Macron, Bachelet se intromete na soberania e nos assuntos internos do Brasil. Segundo ele, “Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”.
Em relação a crítica à perda de valores democráticos Bolsonaro usou a mesma tática utilizada contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz para desequilibrar emocionalmente a ex-presidenta chilena, com menções às mortes e tortura durante a ditadura no Chile: “Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”.
O pai de Michelle Bachelet, Alberto Bachelet, foi general da brigada da Força Aérea do Chile e se opôs ao golpe militar de Pinochet, em 1973, tendo sido preso, torturado e morto pelo regime, em 1974. A própria Michelle foi também presa e torturada pelo regime de Pinochet, em 1975.
As falas de Bolsonaro foram mais uma vez grosseiras, infelizes e anti-diplomáticas, fazendo apologia a ditaduras militares e tortura, bandeiras que defende desde antes de sua eleição. Frente a essas declarações, o ambiente que o espera na ONU, no próximo dia 24, não será dos mais amistosos.