Não é de hoje que os economistas da corrente dominante se dedicam a fantasiar a realidade para convencer as gentes a se curvarem ao deus-mercado. Nas trevas deste Brasil pós-golpe, disseminaram à nação que a entrega de nacos graúdos do nosso tecido social e econômico iriam restaurar a confiança e com ela veríamos jorrar investimentos capitalistas de boa cepa. Nas manchetes de jornais e nos falantes que tocam notícias, a ladainha era uma só: fizéssemos a lição de casa, os empresários se sentiriam confiantes, comprariam novas máquinas, a produção voltaria a crescer, milhões de empregos seriam gerados e todos viveríamos felizes.

Embalados por esta toada tão simplista quanto canalha, aprovamos a regra do “teto de gastos”, jogamos no lixo as leis trabalhistas, abrimos mão de nosso arremedo de seguridade social, trocamos nossas riquezas energéticas por um punhado de amendoim, rifamos nossas empresas na bacia das almas.

E a confiança? Nada.

No último mês de julho, a despeito da taxa Selic estar bastante baixa em termos históricos (6% ao ano), o juro médio do cheque especial cobrado pelos bancos brasileiros alcançou o patamar mais alto em 25 anos (322% ao ano!), em uma inequívoca demonstração de que os donos do dinheiro se sentem ainda menos confiantes nos dias de hoje – provavelmente por conta do cenário de colapso econômico e social que resultou daquela toada entreguista que eles tanto defenderam e financiaram. Outro indicativo frio e inquestionável da mesma falácia é o movimento de fuga de capital estrangeiro ao longo destes famigerados primeiros meses de governo Bolsonaro: no acumulado do ano até o dia 15 de agosto nada menos que 19,2 bilhões de reais vazaram da bolsa de valores brasileira para fora do país. Para quem não acompanha de perto esse mundo arisco dos capitais especulativos, vale lembrar que se trata do maior volume de saída de recursos externos da bolsa brasileira desde 1996.

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