O acordo União Europeia-Mercosul foi tema da conversa entre o economista e presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, o ex-ministro da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e o ex-ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana, realizado na tarde do dia 20 de agosto e transmitido ao vivo pela tevêFPA.

Marcio Pochmman, que mediou o colóquio, destacou que é surpreendente o anúncio do acordo neste momento em que a economia mundial não dá sinais positivos após onze anos de crise global.

Para Taiana, a urgência política é a única coisa que explica o anúncio neste momento, pois há muitos pontos imprecisos, e o acordo ocorre em um contexto de grandes conflitos no comércio internacional e de crescente disputa entre os Estados Unidos e a China. Do lado do Mercosul, foi determinante a insistência do presidente Macri, preocupado em apresentar boas notícias à sociedade argentina devido ao processo eleitoral recente. Do lado das autoridades da União Europeia, pesaram os questionamentos ao Brexit e o nacionalismo crescente em diversos países.

“A ideia de acordo é em princípio boa se forem respeitados quesitos essenciais de equilíbrio entre os países mais e os menos desenvolvidos. Porém, é muito difícil equilibrar a balança e torná-lo atrativo para os dois blocos, não é o momento político, os europeus ampliaram muito suas demandas e cederam muito pouco”, afirmou Taiana.

Também para Celso Amorim se trata de um mau acordo, negociado às pressas, que inclui concessões em áreas sensíveis dos países do Mercosul em troca de pouco. No entanto, para ele é previsível que o acordo fique na geladeira, considerando a atitude do presidente Bolsonaro ao humilhar o ministro da França e sua postura subserviente aos Estados Unidos.

Os temas ambientais e trabalhistas são tratados de forma contraditória para o ex-ministro argentino. Ele disse que muitas das demandas europeias aumentam o desemprego e a informalidade. Além disso, são demandas usadas pelos países mais desenvolvidos para condicionar ou restringir os menos desenvolvidos nas relações comerciais. “Se torna muito difícil ter boas regras trabalhistas e boas condições ambientais se não temos condições de desenvolvimento.”

Na mesma linha, Amorim disse que o Brasil vive uma situação tão ruim e tamanho retrocesso que se faz necessária uma ameaça de retaliação para que o país faça o que já vinha fazendo, mas foi interrompido pelo atual governo. “A União Europeia tem seus objetivos comerciais. As poucas fábricas remanescentes nos países do Mercosul vão fechar para comprarmos diretamente das europeias. E, se precisarem usar o argumento das normas climáticas e trabalhistas, vão usar”, concluiu.

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