Fotos de Sérgio Silva

Foi realizada na segunda-feira, 15 de julho, em São Paulo, a aula inaugural do curso de difusão “Mulheres na resistência – feminismos com raça, classe, identidade de gênero, orientação sexual e recorte geracional”, iniciativa da Secretaria Nacional de Mulheres do Partido dos Trabalhadores (PT), em parceria com a Fundação Perseu Abramo (FPA). O curso é organizado na modalidade EaD, tem duração de três meses e noventa horas aula, com quinze aulas divididas em três módulos. Serão ainda realizadas oficinas presenciais adequadas à demanda de cada região.

A deputada Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, enviou um vídeo de boas vindas às participantes, no qual afirma que nunca precisamos tanto entender sobre a resistência e a luta das mulheres. Que vivemos uma situação de machismo exacerbado, de misoginia, e na realidade as mulheres foram colocadas como algo a ser combatido, aquilo que Bolsonaro tem incentivado desde o início da campanha eleitoral. “Sabemos o quanto custa cruzar as barreiras, fazer os enfrentamentos do machismo. A luta contra o patriarcado e a ideologia do sistema capitalista é muito longa. E justamente quando lutamos contra o patriarcado é que estamos lutando pela maioria do povo brasileiro, por todos aqueles que não cabem no padrão de ricos, brancos e homens, que é o padrão da sociedade capitalista”, disse Gleisi.

Participaram da mesa de abertura a secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Karolyne Moura, a secretária estadual de Mulheres do PT de São Paulo, Débora Pereira, a coordenadora da Marcha Mundia das Mulheres Nalu Faria, a representante da Fundação Perseu Abramo, Vivian Farias, a diretora da Escola Nacional de Formação do PT, Selma Rocha, e a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro.

Débora Pereira ressaltou a importância do curso para resgatar o papel das mulheres na história do país e até para pensar a atualização programática do Partido dos Trabalhadores, pois a conjuntura do país nos impõe essa reflexão. “A história do nosso país é contada por um viés majoritariamente branco, masculino e que despreza a diversidade de quem constrói o processo, que oculta a história e a presença das mulheres”, afirmou.

Selma Rocha falou sobre a oficina realizada na semana anterior no âmbito da jornada nacional de formação, que se articula com o curso, e destacou a importância de refletir sobre a questão da mulher neste momento político. “É necessário ampliar a aprofundar a reflexão sobre nossa ação política em defesa da igualdade de homens e mulheres na última década e também interpretar os fenômenos mais reacionários e conservadores que o capitalismo tem produzido contra as mulheres”, disse.

Para ela, a situação no Brasil revela uma reação muito profunda a todas as conquistas que o governo Lula e os demais progressistas da América Latina representaram. “Não é apenas uma reação ideológica, mas uma operação do capitalismo para por limite à ideia de justiça, de liberdade e de um mundo multipolar. E esta reação, no momento histórico atual, tem as mulheres no seu centro”.

Carmen Foro considera muito importante o PT se abrir para esse debate, e diz o desafio é como levar as mulheres a ocuparem mais espaço dentro do partido, pois essa é uma estratégia em curso que demanda investimento. “O partido é reprodução da sociedade, é preciso dar visibilidade à luta das mulheres dentro do partido, planejar”, afirmou.

Para Vivian Farias, o curso é também importante para estimular uma revolução de nossa prática política. “Tenho refletido muito academicamente sobre onde escondemos nossos machismos. Cotidianamente a gente vê uma jovem que é tolhida com tempo de fala diferente, uma mais velha que é chamada de caquética, uma que tem bebê e é questionada por que leva ou por que não leva o bebê. São violências cotidianas contra as companheiras que, muitas vezes, não recebem a devida solidariedade. Quando nos calamos, também estamos ali escondendo nosso machismo”, afirmou.

Nalu Faria destacou a importância do PT na sociedade brasileira, pois convergiram para o partido todos os setores que, naquele momento, estavam buscando a construção de uma outra sociedade. “Nós, do PT, tivemos um peso no Brasil e na América Latina para fazer um embate com a ideia de que havia dois movimentos: um de mulheres e um feminista. Dizíamos que dentro do movimento de mulheres existia um setor feminista, cujo papel era ir construindo hegemonia dentro do movimento de mulheres. Quando as mulheres lutavam, estavam questionando de forma muito concreta a divisão sexual do trabalho, a divisão entre o público e o privado e, sobretudo, se colocando como sujeito político, mesmo que não tivessem uma teoria que falasse do patriarcado”.

Ela concluiu dizendo que cada vez mais nós mulheres estamos divididas por classe. “Entre mulheres da classe trabalhadora e da burguesia há cada vez mais diferenças. O feminismo liberal joga com isso para desconstituir a ideia de que temos de pensar uma mudança global de modelo e nos coloca o patamar das mulheres da classe alta como se significasse igualdade. Nós vamos lutar contra as mulheres burguesas e temos de expressar que temos diferentes posições políticas. Nos momentos em que o feminismo cresce, o capitalismo joga com isso para cooptar nossa luta”.

 

 

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