O fechamento do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que estava sendo debatido há vinte anos, foi anunciado ao mesmo tempo em que se realizava a cúpula do G20 em Osaka, no Japão. Embora, o texto oficial do acordo inda não tenha sido divulgado, a equipe de negociadores dos dois blocos chegou ao consenso na cidade de Bruxelas, no dia 28 de junho. O lado brasileiro, além dos técnicos, contou também com a presença do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

Uma possível acordo entre o bloco sul-americano e o europeu começou a ser desenhado desde 1995 quando foi assinado o Acordo Quadro de Cooperação Interregional, mas as negociações de fato somente começaram em 1999 quando foi criado o Comitê de Negociações Bi-Regionais (CNB). O primeiro período de troca de propostas entre as partes aconteceu entre 2000 e 2004, quando as conversas foram interrompidas, principalmente, pela proposta insuficiente da União Europeia no setor da agricultura, bem como pela eleição de governos progressistas nos países do Mercosul que deram outros contornos ao desenvolvimento econômico e à política externa, buscando maior autonomia e soberania.

Em 2010 as negociações foram retomadas, porém sem novas perspectivas. No entanto, os governos de Michel Temer (MDB) e o atual, de Jair Bolsonaro (PSL), trataram este tema como um dos principais em seus projetos de política externa e agora as negociações chegaram ao fim.

Quem anunciou a conclusão em primeira mão foi o ministério da Agricultura que, junto com o fato de sua ministra ter acompanhado as últimas conversas, ilustra bem qual setor econômico do Brasil poderá ser beneficiado pelo acordo, pois podemos esperar que a indústria seja a grande perdedora, já que os países da União Europeia são líderes em vários segmentos industriais, como o caso do de máquinas e equipamentos onde a Alemanha reina. A relação comercial entre a União Europeia e o Mercosul já possui um perfil onde as exportações europeias são compostas por 80% de bens industriais contra 80% de bens agrícolas do Cone Sul.

Outros pontos que o acordo abrange, como o de investimentos e o de compras governamentais, também apontam para perdas da indústria brasileira e argentina. No caso do segundo item, por exemplo, as empresas europeias, mais competitivas, poderão concorrer com as brasileiras em licitações. Apesar da falta de transparência que cercaram as negociações, uma coisa é certa: o livre comércio com os europeus acelerará ainda mais a desindustrialização brasileira.

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