Na contramão da tendência de crescimento da extrema direita na Europa, os dinamarqueses foram às urnas no dia 5 de junho e deram mais de metade dos votos para o “bloco vermelho”, dos partidos situados no campo da esquerda, como o Social Democrata, a Lista da Unidade, o Partido Socialista Popular e o Alternativa. Nesta eleição, inverteu-se o resultado de 2015, quando o “bloco azul”, formado pelos partidos de direita, como o Liberal, o Conservador e o Popular Dinamarquês, entre outros, somaram quase 52% dos votos e compuseram um governo liderado por um primeiro- ministro liberal, embora este partido tenha obtido menos votos e cadeiras que o Social Democrata.

O grande derrotado foi o Partido Popular Dinamarquês, de extrema direita, que vinha crescendo nas últimas eleições graças à sua retórica antiimigrantes e refugiados, que chegou a ocupar a segunda posição na preferência do eleitorado em 2015, atrás apenas atrás dos social-democratas. No entanto, o envolvimento de seu principal dirigente, Morten Messerschmidt, no desvio de recursos da União Europeia para a campanha de seu partido na eleição municipal na Dinamarca, em 2018, e a falsificação de documentos, afastou 12% de seus eleitores na atual eleição.
A tentativa de criar outro partido de extrema direita, “Nova Burguesia”, não trouxe o resultado esperado, pois este obteve pouco mais de 2% dos votos. O que se verificou, foi que os 12% de votos se pulverizaram entre vários partidos de direita, beneficiando principalmente o Partido Liberal, que retomou a segunda posição no Parlamento, embora agora na oposição. Pesou também que o PPD tinha um discurso favorável aos trabalhadores, mas na prática ajudou os dois últimos governos liberais a aprovar uma série de medidas neoliberais e impopulares.

O Partido Social Democrata, por sua vez, vinha avaliando há tempos que parte importante de seu eleitorado tradicional formado pelos trabalhadores sindicalizados estava transferindo votos para a extrema direita em função da retórica xenofóbica e individualista. Diante disso, adotou uma estratégia de retomar os valores do Estado de bem-estar social e de combate às mudanças climáticas, com aumento dos impostos para os ricos, como a tributação sobre fluxos financeiros e de heranças. Porém, estes valores seriam apenas para os dinamarqueses. Hoje, os social democratas defendem a manutenção de toda a legislação restritiva aos imigrantes e refugiados. Esta avaliação não se sustenta muito, pois em 2019 tiveram apenas 0,5% e uma cadeira a mais no Parlamento em comparação com 2015. Ou seja, os votos supostamente transferidos ainda não retornaram, apesar da mudança na estratégia política.

Este quadro coloca grandes dificuldades para composição de um governo de maioria. Por exemplo, o Partido Radical de Esquerda, que, apesar do nome, é social liberal e de centro e já governou anteriormente em coalizão com os social-democratas, agora obteve 9,1% dos votos. Afirmava antes da eleição que desta vez não entraria no governo, pois não concorda com a política imigratória de direita dos social-democratas nem com sua proposta econômica esquerdista. Obviamente seria difícil também para os outros três partidos de esquerda do “bloco vermelho” aceitar esta política de migração e refúgio.

Diante disso, uma grande possibilidade é o Parlamento aprovar um governo de minoria, a exemplo da Suécia, liderado pela presidenta do Partido Social Democrata, Mette Frederiksen.

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