Em um intervalo de apenas onze dias três crianças indígenas faleceram por doenças evitáveis em aldeias no Xingu. Desde novembro, quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou o fim da participação dos médicos cubanos no Programa Mais Médicos, os 7.500 índios das dezesseis etnias que vivem no Xingu ficaram sem atendimento. No país, dos 372 médicos que trabalhavam em terras indígenas, 301 eram cubanos, incluindo os seis do Xingu.

A reserva, assim como outras, passa por um “apagão médico” desde então. Os pacientes, incluindo crianças e grávidas, precisam se deslocar por horas de barco ou por estradas esburacadas, para as cidades mais próximas. No entanto, municípios como Sinop (MT), uma das cidades agrícolas mais ricas do país, proibiu o atendimento a indígenas desde janeiro, já que, segundo seu secretário de Saúde, não há indígenas dentro do limite da cidade.

As mortes ocorreram por pneumonia, por desnutrição e outra por suspeita de meningite. Ambas tiveram que fazer o longo deslocamento, e passaram por diagnósticos provavelmente equivocados, realizados por não médicos. São vítimas da “confusão dos brancos”, segundo os indígenas. Algumas das tribos também estão passando por surtos de pneumonia, trazidos por indígenas que retornaram dos atendimentos na cidade.

Desde novembro de 2018, as tribos ficaram cinco meses sem médicos. Os que chegaram, brasileiros formados no exterior, não ficaram. O corte de verbas da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), neste ano, também agravou a situação. Faltam remédios, recursos para resgates e deslocamentos e funcionários, já que muitos abandonaram seus postos após meses sem receber. Sobre isto, o Ministério da Saúde alega “dificuldades jurídicas” e possível corrupção nas entidades que atuam no atendimento.

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