Foi apresentada no último dia 28, durante o quinto Salão do Livro Político, a peça Quando Quebra Queima, da ColetivA Ocupação, sob direção de Martha Kiss Perrone. Uma experiência única. Peça sem palco, sem diálogos longos estruturados, sem personagens em destaque. É tudo horizontal. Do caos tentam construir uma significação única. Os atores representam a si mesmos no processo de ocupação das escolas de São Paulo em 2015. Quinze ex-secundaristas, atrizes e atores de várias escolas públicas – cujos nomes são revelados numa projeção –, encenam uma ocupação única, buscando o sentido comum que elas tinham.

A plateia sentada no chão da arena é obrigada, constantemente, a se levantar, mudar de lugar, dar mais espaço para os atores. Secundaristas incomodam, são inconvenientes – no melhor sentido disruptivo da palavra -, querem mover estruturas.

As contradições do movimento também são apresentadas: gritam “anarquia”, falam contra o Estado, mas também demandam mais investimento público. Tentam fazer uma faixa enorme única com palavras de ordem, mas não conseguem. São tantas palavras soltas jogadas no tecido – rebeldia, anarquia, movimento autônomo, resistência, ocupação – que a faixa se torna inelegível. O potente tanto/muito torna-se nada, um vazio. Encenam uma assembleia, com todo aquele “tesão” político pulsante, mas que não logra decidir um caminho único a seguir.

Ao final, os atores levam toda a plateia para a rua em frente ao Tucarena com as palavras de ordem “Vamos ocupar as ruas!”. A plateia os segue – e os seguiria para qualquer lugar, tamanho o envolvimento que constroem ao longo de uma hora e quinze minutos. Na arena, ao fim, restam as cadeiras empilhadas e a faixa em branco. “Estamos na rua! E agora? Para onde eles vão nos levar?”, pensa o público com o coração aquecido. Mas a peça termina ali, assim. Talvez como em 2015.

A ColetivA Ocupação parece querer nos dizer que para estudantes de 2015 o legado de construção coletiva macro pode não ter sido o mais importante. Ficaram as experiências individuais, o micro, circunscritas no tempo e dentro dos muros das escolas. Ficaram as mudanças estéticas, de padrões de comportamento e de sociabilidade. Ficaram jovens modificados por esta experiência.

Nenhum outro espetáculo revela tão bem o espírito do que foram as ocupações das escolas paulistas em 2015. O público se sente em uma. E o ponto forte está justamente aí: na maneira como explora a estética de uma geração – corpos jovens, leves, livres, cabelos empoderados dançando as músicas de uma geração, expressam-se política e culturalmente com toda sua potencialidade explosiva e suas limitações de repercussões coletivas mais duradouras no tempo.

Peça: Quando Quebra Queima
Coletiva Ocupação
Direção: Martha Kiss Perrone
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