Todos os brasileiros que defendem um país mais justo e igualitário precisam estar unidos para enfrentar os retrocessos impostos pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). Nesse contexto existem duas pautas que se fazem cada dia mais necessárias: a luta por Lula Livre e em defesa da educação. Esse foi o recado do primeiro dia do Salão do Livro Político, que teve início nesta segunda-feira (27) e vai até quinta-feira (30), no espaço Tucarena, em São Paulo.

A principal mesa de abertura foi composta pelo professor e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, pelo ex-ministro Celso Amorim, pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e pela deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP). Figuras como o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) abrilhantaram a plateia.

O ator Sérgio Mamberti também participou do evento lendo uma carta enviada por Lula que defendia a importância da educação e da leitura para o desenvolvimento do país. Nas palavras do ex-presidente, “a educação foi e será sempre a nossa maior riqueza e a nossa principal forma de resistência”. Sendo assim, “é por isso que nossos adversários se surpreendem e se assustam quando uma juventude esclarecida enche as ruas em defesa da educação, lutando contra os retrocessos de um governo que tem o povo brasileiro como seu principal e mais temido inimigo”.

E como falar em educação sem lembrar do legado do Presidente da República que mais investiu no ensino público gratuito, de qualidade para todos? Aquele que abriu as portas das universidades e levou os institutos federais para lugares no Brasil onde não havia qualquer resquício de oportunidade e esperança. Essa reflexão deu o tom do debate realizado nesta segunda-feira, quando uma parte do campo progressista se uniu para reafirmar que Lula representa a luta do povo e que esse mesmo povo não vai se curvar diante da arbitrariedade e do retrocesso.

 

O professor Fernando Haddad, que como Ministro da Educação de Lula teve papel fundamental no desenvolvimento do ensino, lembra que essas políticas deram início a um processo de mudança na estrutura da sociedade. “No nosso governo, milhares de brasileiros foram os primeiros de suas famílias a se formarem”, conta enquanto, na platéia, exemplos dessa realidade se manifestam.

Ao retomar a palavra, complementa: “Há 10, 15 anos atrás quando a gente plantava essa semente, a gente sabia que não ia se arrepender de abrir as portas do conhecimento para essa juventude que foi às ruas no dia 15 de maio, que vai voltar às ruas no dia 30 de maio e vai dizer um grande não para esse governo que está querendo, mas não vai destruir a educação”.

Fernando Haddad baseia sua fala no caráter libertador e emancipatório do ensino citando o homenageado da noite, Paulo Freire, patrono da educação no Brasil que tem sido sistematicamente atacado por Bolsonaro e seus seguidores. O ex-ministro explica que as ideias do pedagogo, aclamado no mundo inteiro, repudiam a opressão e, por isso, são tão criticadas pelo atual governo. “Não é possível para uma mente autoritária conviver com o pensamento de Paulo Freire. Pessoas que veem o mundo como algo que tem que impor uma ordem, não como uma construção coletiva e democrática, não suportam as ideias dele”.

Leia a carta de Lula, lida na abertura do Salão do Livro Político pelo ator Sérgio Mamberti:

“Ler é um ato político. Não é por acaso que nossos adversários, ao mesmo tempo que tentam criminalizar a política e impedir toda e qualquer forma de ativismo, atacam com tanto ódio o saber, o conhecimento. Querem mais armas e menos livros. Mais jovens presos e abatidos por disparos de helicópteros do que com acesso ao ensino público de qualidade. Disparam sua artilharia pesada contra a educação como um todo, e a universidade em especial. Agridem a ciência, estrangulam a pesquisa.

 

Ler é resistir. E nós resistimos nas trincheiras cavadas com tanta garra e tanto carinho por gente que nem Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e cada professora e cada professor anônimo deste país, que nossos adversários tentam inutilmente destruir. E nós resistimos, porque a vida nos ensinou, e porque aprendemos com nossos mestres.

Nossos adversários odeiam o fato de termos criado mais universidades e institutos tecnológicos do que todos os que governaram antes de nós. Distribuímos bolsas de estudo, garantimos acesso ao crédito estudantil e colocamos jovens negros e pobres no ensino superior como nunca antes na história. Criamos políticas públicas de acesso ao livro e à leitura e espalhamos bibliotecas pelo país afora.

A educação foi e será sempre a nossa maior riqueza e a nossa principal forma de resistência. É por isso que nossos adversários se surpreendem e se assustam quando uma juventude esclarecida enche as ruas em defesa da educação, lutando contra os retrocessos de um governo que tem o povo brasileiro como seu principal e mais temido inimigo.

Ler é ser livre. Estou há mais de um ano preso pelo “crime” de sonhar e trabalhar pela construção de um país onde uma pai de família não fosse mais obrigado a escolher entre comprar um pão ou um caderno para seus filhos. Onde uma mãe de família não tivesse que partir um lápis no meio para que seus filhos pudessem estudar. Por esse “crime” estou preso, e no entanto mais livre do que nunca, graças aos livros e à leitura.

Nestes 13 meses de quase solidão – não fossem as visitas de parentes e amigos e o carinho da incansável vigília na porta do cárcere em Curitiba – tenho lido muitos livros. Cavalguei com Riobaldo e Diadorim pelas veredas do grande sertão de Guimarães Rosa. Cruzei o Atlântico em navio negreiro ao lado de Luísa Mahin, no extraordinário romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves.

Navego nas águas da ficção, mas tenho, sobretudo, me dedicado aos livros dito políticos – com a ressalva de que se ler é um ato político, todo livro é político, seja ele de poesia, romance, contos, filosofia, sociologia, economia ou ciências políticas.

Mas é o livro propriamente político, razão de ser desse Salão, que quero saudar agora. É principalmente graças aos livros que, quando a justiça for restaurada neste país, sairei da prisão sabendo mais do que quando entrei.

Um abraço a todos e todas, e viva o livro!”

Luiz Inácio Lula da Silva

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