O governo está em um dos piores momentos no trato com o Legislativo. O presidente resolveu elevar o tom após uma série de derrotas, as mais recentes envolvendo a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça; denúncias de corrupção que atingem a família Bolsonaro; e o agravamento da crise de popularidade após as manifestações contra os cortes na educação no dia 15 de maio, que superaram a expectativa.

Na última sexta-feira (24) Bolsonaro divulgou texto nas redes sociais que sugere que o país é ingovernável devido à dinâmica parlamentar. O governo não tem disposição de dialogar com o Congresso e prefere responsabilizá-lo pelo mau desempenho da economia, afirmando que a classe política é o grande problema que impede o Brasil de dar certo.

Ao que tudo indica, a crise do governo mudou de patamar, com a possível aposta de Bolsonaro em uma linha de confronto mais direta e convocando manifestações de sua base de apoio para o dia 26. Na chamada, a manifestação evoca a ultradireita contra todos, em especial contra a “classe política“ e o Supremo Tribunal Federal (STF), pressionando o Congresso e sugerindo a intensificação do autoritarismo.

O Centrão, grupo formado pelos partidos DEM, PSD, PTB, PP, PR, entre outros aliados, é refratário a apoiar o governo e prefere assumir o protagonismo, levando à frente as votações que considera necessárias. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), principal articulador desse movimento, levará à votação na Câmara o necessário para fazer o país andar.

O presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), afirmou que a Câmara irá produzir um novo texto a partir das emendas apresentadas à proposta original da reforma para destravar o debate. Alega que se o governo não consegue organizar uma interlocução “sadia” com a Câmara, o Congresso assumirá o protagonismo das negociações sobre o tema, para “fazer a reforma andar”.

A convocação da manifestação pró-Bolsonaro para o dia 26, mais do que uma tentativa de recuperação da base governista, pode ser um outro “tiro no pé”. Se tiver baixa adesão, será associada à perda de capital político e Bolsonaro sofrerá forte desgaste. Da mesma forma, se tiver ampla adesão, a depender das pautas defendidas, como contrárias ao Congresso e ao STF, tende a elevar a tensão com o Congresso, aprofundar o distanciando de parte da direita que o elegeu e aprofundar seu isolamento.

Até o momento, grupos que apoiaram o impeachment da ex-presidenta Dilma e defenderam Bolsonaro na campanha eleitoral, como o Vem pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL), não aderiram às manifestações do dia 26, afirmando que as pautas contra o Congresso são antiliberais, anticonservadoras e antirrepublicanas.

Deputados do PSL também se opõem à manifestação, e o presidente do partido, Luciano Bivar (PE), embora não veja sentido no movimento, vai reunir a bancada para decidir a adesão ou não do partido. Segundo Bivar pode haver bandeiras divergentes da posição do partido, como a de intervenção militar.

`