Enquanto a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) cria sistemas para facilitar o uso de dados para a avaliação e implementação de políticas públicas, o Brasil quer reduzir dados disponíveis para a compreensão da realidade brasileira.

Na última semana, a organização internacional anunciou atualizações em uma ferramenta chamada “Education Policy & Strategy Simulation
(EPSSim)” para auxiliar os países a implementarem seus planos setoriais de educação. Segundo o site da instituição, a “Unesco defende que as decisões referentes a políticas públicas sejam baseadas em dados no campo da educação”. No campo do planejamento educacional, os dados podem ajudar a basear políticas, estratégias e prioridades a partir das realidades econômicas e demográficas de um país. Ainda, o site completa que “é essencial que políticas educacionais sejam ancorados na realidade para que sejam exequíveis e realistas”.

O que o Brasil tem feito é justamente o contrário: ao ameaçar cortar do Censo de 2020 perguntas importantíssimas, em especial na área da
educação, o Brasil deixa pesquisadores e tomadores de decisão no escuro sobre qual é a realidade brasileira e sobre quais políticas adotar. Por exemplo, podem sair do questionário perguntas sobre o de deslocamento para educação, que levanta o tempo gasto no percurso e como as crianças chegam na escola, se a pé, de ônibus ou de bicicleta. É a lógica do avestruz: “se eu não souber do problema, ele não existe”.

O presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Wellington Leonardo da Silva, ponderou que, se o motivo para os cortes são os custos do Censo, o maior custo do Censo (que é o deslocamento e o tempo que o recenseador demora para ser recebido) não cairia com um questionário mais curto. Já o pesquisador do IBGE Antônio Alkmim afirmou que “fazer o Microcenso, como o proposto pela presidente do IBGE, Suzana Cordeiro, será o mais restrito e pior Censo desde 1878, quando foi realizado, ainda no império, e pela primeira vez.”

Os impactos de tais decisões de corte nos dados disponíveis, aliados aos cortes que diversas políticas sociais tem sofrido desde 2015, e que se agravam agora em 2019, serão sentidos pelas gerações presentes e pelas futuras.

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