O Planalto não sabe o que fazer em relação aos prazos de tramitação da reforma da Previdência na comissão especial. Por um lado, quer votar logo, pois quanto mais for debatida, mais chances de surgirem novos pontos de modificações ao texto original. Por outro lado, precisa arregimentar pouco mais que os 308 votos para sua aprovação, o que não será fácil.

Lideranças do MDB, quarta maior bancada do Congresso, além de mudanças no Benefício da Prestação Continuada (BPC) e aposentadoria rural, querem também manter o atual modelo de aposentadoria especial dos professores, com o que parte do próprio PSL, partido do governo, concorda. As pensões por morte, alíquotas de contribuição, abono salarial e o sistema de capitalização são outros dos pontos polêmicos sobre os quais o MDB não está convencido e quer aprofundar a discussão.

O Centrão, com cerca de 250 votos, continua sendo a principal ameaça ao governo, e pode fazer grande estrago na condução da Reforma. Há um aparente esforço do Centrão para reduzir a potência fiscal da proposta e com isso desestabilizar o governo e inviabilizar uma possível reeleição. Aliados do governo atacaram o Centrão nas redes sociais, devido a uma fala do deputado Paulinho da Força (SD-SP) nesse sentido.

O líder do PR, deputado Wellington Roberto (PB), reagiu e defendeu um amplo debate sobre a proposta, afirmando que “quem manda na Câmara são os deputados e deputadas. Se for nessa linha, a chance que o governo terá de aprovar a Reforma é zero”, declarou. O governo terá que negociar com os partidos do Centrão e já se mostrou disposto a ceder cargos e liberar emendas, mas reconhece que terá dificuldades, já que os líderes estão resistentes depois do tratamento distante recebido do governo.

As alterações no BPC e na aposentadoria rural devem sair do texto da proposta, mas o governo tenta resistir. Para o secretário da Previdência, Rogério Marinho, o texto encaminhado pelo governo deve ser aprovado na íntegra, mantendo inclusive a redução do BPC e a alteração na aposentadoria rural.

A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselman (PSL-SP), já admitiu que haverá mudanças nas regras do BPC e aposentadoria rural, mas critica o que chama de “intromissão” do Congresso na proposta afirmando que se o governo abrir concessão em outros pontos não conseguirá fazer a Reforma com a economia que precisa. Joice avalia que a articulação política do governo já apresentou melhoras, e o projeto poderá ser votado ainda nesse semestre.

O governo vai criar um “gabinete de inteligência” para tirar dúvidas de parlamentares, além de mobilizar deputados a favor da Reforma da Previdência, distribuindo material para usarem em suas bases eleitorais explicando seu voto a favor da Reforma. O líder do PP, Arthur Lira, (AL), disse que a criação do gabinete dá a entender que o governo desqualifica os parlamentares, sugerindo que não entendem o que está sendo discutido.

O governo terá que decidir se opta pela pressa na aprovação de uma Reforma em que preserve seu conteúdo ou se prioriza a conquista dos votos que faltam para a aprovação.

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